INQUIRINDO-ME

Data 08/04/2010 21:52:28 | Tópico: Crónicas

INQUIRINDO-ME

Hoje deu-me para entrar dentro de mim e de do mais dentro de mim tirar ilações, chegar a conclusões e, auscultando-me bem lá no fundo, saber a que devo aquilo ou aquele que sou, porventura que circunstâncias estão para trás, a ditar-me. Uma conclusão há a que não tardei a chegar: é a de que se estou aqui hoje, aquele que sou, com toda a complexidade do meu ser, quer ao nível físico, quer mental, psíquico e o mais que possa ser (e já é tanto) é fruto de todo um mundo de coincidências, de circunstâncias.

Ao reflectir nesta onda, surpreende-me sentir-me apaixonado pelo tema e com uma enorme sede de conclusões claras, colocadas aos olhos daquilo a que chamarei evidências. Sinto-me impotente para encetar a caminhada, que teria de ser ao para trás, no sentido do meu principio, já que é esse que está em causa, o que nesta hora me importa.
Apesar dessa impotência, gostaria de dar alguns passos (ser capaz de o fazer) nesse sentido. Passos e poucos mas que a minha razão e a minha vulgar inteligência sejam capazes de dar. Para simplificar, acho que vou começar (e decerto acabar) por aqueles factores cuja falta ou não existência seriam determinante para que aquele que eu sou simplesmente não existisse: se não existisse oxigénio, eu não existia; se não existisse hidrogénio, eu não existia; se não existisse azoto, eu não existia; se esse três elementos não tivessem chegado a um acordo e se combinassem, eu não existia; se não se tivesse formado a água, eu nem pensava em existir; se a crosta terrestre no seu processo imparável de transformação e de recriação, (em que nem me atrevo a entrar) parasse o seu processo, é obvio que eu não existia (este mundo seria um deserto).

Mas mesmo que tudo isso existisse, se não existisse a lua com as implicações que ela tem no terráqueo mundo, eu não existiria; mas mesmo existindo a lua, se não existisse o sol, nem pensar na minha existência; mas mesmo existindo o sol, se ele resolvesse descansar um dia (e é esse o meu medo), bastaria para que eu não existisse.
Já não são poucos os factores visíveis a olho nu capazes de cada um por sua conta e risco, serem os responsáveis pelo meu não existir.

Passando agora um relance pelo mundo da hereditariedade, de que um sem fim de coincidências está dependente a pessoa que sou, bastaria a não ligação, e por muito legitima que fosse (e quantas vezes terá acontecido) para que eu não estivesse aqui; mas bastaria (agora é a pequenez do meu reflectir a pensar) que um qualquer dos infinitos encontros homem/mulher que estão na linha da minha ascendência, se tivesse concretizado um instante mais cedo ou mais tarde, para que eu não estivesse; mas mesmo sem esse contratempo em extremo bastaria que determinados espermatozóide e óvulo se não encontrassem, para que eu já não existisse.

Mas que mundo fantástico (não há palavra que o expresse) de coincidências aconteceu para que eu seja aquele que sou, para que cada um de nós seja aquele que é?!

Antonius



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