
LUZ QUE TARDA
Data 08/04/2010 23:28:59 | Tópico: Poemas -> Sociais
| LUZ QUE TARDA
Todos esperamos o sol nascer Com os olhos abertos à beleza da manhã!
Risco no céu um pouco de paz. Traço um limite de nuvens No esplendor das estrelas. Em todos os olhares encontro Uma estrada de luz Que vai além dos sonhos Além dos desejos Transparece em cada raio Como um farol aceso No nevoeiro dos sentimentos.
Um espelho transparente Marca o biorritmo de uma existência Emoldurada no fascínio de uma promessa Lançada ao mar numa gôndola. Todo o nada é ilusão! A luz inscreve no Karma A absoluta fusão Duma lua aspirante Numa noite de ânimos e guitarras. Como observador do espaço de nós Recrio os sonhos numa tela vazia Enquanto uma ópera resvala pelo ouvido. O fascínio mora aqui!
Consigo interiorizar no espelho côncavo de mim O cântico de um anjo sem asas O toque do clarim O pânico dos pássaros A alienação dos peixes Num vendaval de cetim!
A natureza arredonda arestas e enfeita-se Para a festa fundamental da vida. Nós somos úteis!
Sibila a natureza aos céus Um aflito gemido de perpetuidade…
“Por cada árvore arrancada pela raiz A necessidade de sobrevivência dos homens suados Impõe-se às cidades amordaçadas Por altas chaminés de toxinas e desencantos A par com a vontade absoluta de liberdade! Os mais velhos contam histórias de imensos pomares Quando abriam uma laranja e o destino Jorrava num fio enorme de saúde e boas palavras… Ouvem-nos as crianças e sonham… sonham… sonham… Porque o sonho é tudo o que resta! Nas amuradas traça-se o futuro a uma voz Arrancada impunemente ao sossego das vagas. Acordam nos dedos vontades de construção! Os navios já não são corcéis! Os motores já não são remos e velas! Agora inventam o tempo E a velocidade que o ultrapassa! Exige-se um mundo Criado à semelhança de cada sonho! Inventa-se o sol! Inventa-se a lua! Estendem-se as horas numa toalha de passos… A ambição de serem máquinas pensantes Resolve a insanidade do delírio de não o serem! Aquém do cais, aquém do silêncio Aquém de todos os mistérios possíveis Uma espada de enxofre serve de Aladino Às cabeças que fazem do paraíso uma estufa!”
Aquém da vida… Eu!
Quando escuto o aflitivo grito da natureza Resvalo pelo passado liberto dos anzóis Que algemam a humanidade ao progresso… Ainda consigo sonhar com rouxinóis… Ao meu redor as crianças dão as mãos Cantam canções alegres e serenas Recriam a alegria de serem crianças… Tudo podia ser tão belo…!
Uma chuva de máquinas e mecanismos Atropela o éter com urgência Impõe fundamentos requisitos e loucuras Inventa necessidades Cria ilusões E todos correm atrás do vício absoluto! Imaginam um futuro sofisticado Cuja actividade consistirá no clicar de um botão Para que a futilidade adormeça diante dos olhos…
Recuso o futuro Na minha rebelião de velhos escolhos! Poeta das sombras Sou a miragem da poesia e as suas asas O fascínio de um encantamento maior que eu! Continuarei pela vida eremita A clamar pelo sonâmbulo sonho De um mundo diferente Onde a dignidade de cada pétala de flor Se represente no cosmos Com a graciosidade de o ser! Este projecto é mais que um delito Na disforme sociedade que o recusa Porque a moda não pode parar…
No desespero do verde quero ver O vosso pulmão pedindo auxílio! Que as labaredas infernais do consumo Se incrustem à frivolidade do vosso ter!
Quero o canto do mar nos meus ouvidos! Quero o vento sul nos meus nervos! Quero o verde a encantar os meus passos! Imergido na floresta das minhas células Quero ser o naco de pão do oxigénio que existe! O trago de água que ainda passeia Num leito de pedras plástico e lama! Quero que os animais encontrem refúgio Nas sebes que se elevam da terra castanha! Que mamíferos, insectos, aves, répteis Ocupem o espaço que lhes foi delimitado Pelas mais simples e puras leis naturais! As mesmas que nos protegiam quando éramos animais À mercê do calor e do frio…
Quero um futuro construído na pressa dos rochedos! Não aceito condições nas florestas! Que as papoilas acolchoem de aromas o alcatrão! Que a humanidade renasça do cansaço De tantas ilusões talhadas à medida do dinheiro! Não seremos os senhores de um mundo vazio! Que expressão terá o futuro na aridez?!
Se alguma réstia de dúvida assombrar De dores, martírios e ganâncias O conformismo desleal do vosso habitat Procurai no âmago de vós a perfeição Onde a balança da justiça e da razão Penda num equilíbrio são e real Onde seja possível conter-se o mal Onde seja possível ser-se humano!
1 Abril 2010 antóniocasado
|
|