
HOMENAGEM A ALFONSINA STORNI
Data 12/04/2010 22:50:57 | Tópico: Sonetos
|
BIEN PUDIERA SER... Pudiera ser que todo lo que en verso he sentido No fuera más que aquello que nunca pudo ser, No fuera más que algo vedado y reprimido De familia en familia, de mujer en mujer. Dicen que en los solares de mi gente, medido Estaba todo aquello que se debía hacer... Dicen que silenciosas las mujeres han sido De mi casa materna... Ah, bien pudiera ser... A veces en mi madre apuntaron antojos De liberarse, pero se le subió a los ojos Una honda amargura, y en la sombra lloró. Y todo eso mordiente, vencido, mutilado, Todo eso que se hallaba en sua alma encerrado, Pienso que sin quererlo lo he libertado yo.
1
“Creio que sem querer fui eu quem libertou” O canto onde talvez pudesse ainda crer No dia que virá em raro amanhecer Mudando a direção do quanto ainda sou, Mergulho neste mar imenso e nada vejo Somente o meu passado imerso em tanta dor, E quem se faz assim em mundo encantador Não sabe da alegria ao menos um lampejo Poeta se pudesse em tantos temporais Vencer o descaminho e crer em novo dia, Mas como se eu bem sei assim, a poesia Enquanto dita o rumo esconde mesmo o cais. Pudesse, quem me dera a sorte bem diversa Daquela que ora encontro e sobre a qual se versa.
2
“ Tudo o que se encontrava em sua alma guardado,” O medo do não ser e tanto não pudesse Quem sabe crer no sonho e dele faz a prece Esconde a cada tempo o dia em duro fado, Vencida pela angústia e quanto mais tentei Não pude acreditar sequer num horizonte Olhando para quando o jamais nunca aponte Apenas o vazio ainda dita a lei E dele não escapo e todo o meu futuro Não pode ter nem mesmo a sombra do que agora A cada novo dia, em palidez se aflora Quem dera ter um cais, um porto mais seguro, Sentindo a tempestade, imersa na procela O quanto em mar imenso, o sonho não revela...
3
“ E tudo de mordaz, vencido, mutilado,” Não pode mais trazer o quanto se tentava Se eu sei que me perdi, imersa em tanta lava O amor não traduzido ainda dá o recado E sendo assim quem sabe algoz de cada sonho, Servindo a quem tentei amar e não podia Aonde se criara a luz de um novo dia Apenas o bizarro, apenas o medonho. Descrevo com terror o quanto ainda aguarde Aquela que se fez amante além da vida, A morte não trouxesse em si a despedida Quem sabe dela mesma o quanto, ainda tarde Não seja finalmente o todo que eu anseio Não posso mais negar, quem sabe único veio...
4
“Uma funda amargura, e na sombra chorou” Quem tantas vezes teve a sorte em vã desdita E quanto mais reluta, eu sei tanto acredita No tempo mais feroz, e tudo o que restou Somente o frio intenso e dele o medo imenso Saber do quanto tive e nada mais terei, Saber do quanto fui e nada mais serei, Decerto o descaminho aonde me convenço Do medo tão feroz e dele o nada após A voz se cala e a morte ao menos apazigua A vida de quem sonha ao ser por certo exígua Expressa a cada verso o mundo, frio algoz, Servindo de mortalha aos meus delírios tento Inutilmente mesmo apenas um alento...
5
“De enfim se liberar, mas ao subir-lhe ao seio” O medo mais feroz de quem tanto sonhara A vida quando atroz esboça cada escara E nela se encontrando a sorte perde o veio, Estardalhaço tanto, espúria desventura A mão que acaricia a mesma apedrejando O riso de esperança um ar tanto nefando Assim o meu caminho em vão já se perdura, Singrando o nada ter e mesmo quando quero O tanto se mostrasse aquém do que podia, Somente me restando a voz da poesia, O tempo se moldando em ar terrível, fero Mantendo tão somente o quanto ainda resta Deixando esta sombria amargura funesta.
6
“Às vezes minha mãe terá sentido o anseio” De ter se percebido assim também perdida E nisto como pode, enfim ser parecida A vida que se foi e aquela que ora veio, Idêntico caminho, o manto em tez sombria A fúria do viver, o medo do futuro, A corda arrebentada aonde quis seguro O rumo feito em dor e dela se recria A própria ingratidão, medonha realidade E tanto vejo assim o quanto nunca fora, A sorte desvendada, uma alma sonhadora Enquanto se porfia aos poucos se degrade, Quem sabe noutro mar, imenso claro e então A morte seja enfim, a melhor solução.
7
“Em meu materno lar. Ah, sim, bem pode ser” Um rumo tão diverso ao qual eu relutava, Mas quando se percebe uma onda enorme e brava O quanto poderia e sem ter nada a haver Esgota-se a verdade e teimo contra o rumo Sabendo ser venal o pouco que inda tenho, Por mais que tanto lute e neste farto empenho, Aos poucos na sangria em dor eu já me esfumo, Esgarça-se a palavra e tudo o que trouxesse Aquém do quanto tento e mesmo em desabrigo Porquanto sonhadora, às vezes eu prossigo, E sei do desafio, e dele o nada tece Perdidamente insana, a vida se perdendo E quanto inda tentasse, ausente dividendo...
8
“Silenciosas, dizer; que as mulheres hão sido” Em nada simplesmente o nada além do vão E assim ao me perder na mesma direção O mundo que desejo, amargo e torpe olvido Sentindo esta verdade ainda no meu peito Ardência me domando um novo amanhecer, Porém a lua morta expressando este sol Imenso e radiante um tétrico farol Ditando à noite escura apenas desprazer Não posso crer então ter novo rumo em vida Amordaçada, a voz jamais seria além Do quanto em verso tento e o nada, e o nada vem Sabendo desta senda há tanto em vão, perdida Destino igual? Jamais. Assim melhor partir Negando o quanto em nada eu vejo o meu porvir.
9
“Estava tudo aquilo, o que resta a fazer” O não ser o lutar embora sendo amargo O rumo pelo qual o canto em vão embargo E sei que na verdade o fim a me tolher Gestado desde quando a sorte desvendara Assim se repetindo a mesma história, eu sigo Sabendo do caminho em vital desabrigo A nova realidade? A velha face amara Onde me concebera e quanto não pudesse Sentindo o frio imenso, apenas bebo o mar Diversos caracóis, estrela a me mostrar Do cavalo marinho, a beleza em rara messe, O mergulho até o fim e dele a solução Na branca areia o sonho e quem sabe o verão?
10
“Dos solares dos meus dizem; sempre medido, O quanto poderia em passos mais audazes Diverso do que tanto ainda em vão me trazes A vida finalmente ao menos o sentido, Disperso caminhar em águas violentas E nelas ondas vejo o fim em placidez No verso que compus o quanto tu não vês E neste caminhar o tanto me apascentas Em morte em mar em luta aonde não se mede A senda mais cruel? Apenas calmaria, E nela se moldando o que deveras cria E o passo mais audaz, eu sei jamais impede Retrato de uma vida em trágico caminho No quanto em solidão da morte eu me avizinho.
11
“De família em família e mulher em mulher” Repetindo esta história há tantas gerações E nelas o que vês e sempre ainda expões Além do quanto pensa ou mesmo o que se quer Assim se revelando esta aridez imensa Amortalhada sina esgota a realidade E a cada estupidez a nova já me invade E sem ter qualquer luz aonde se convença Do passo diferente ou mesmo mais audaz, Estúpido caminho espúria noite em vão E sem saber se existe ao menos solução Além do quanto a morte ainda posso e traz Viceja a solidão e nela enfim perduro O mundo traiçoeiro e sei quanto inseguro.
12
“Não seja mais do que deveras reprimido” O passo em luz sombria e tanto se percebe O fim de cada dia em tétrica e vã sebe Assim o mundo atroz e sempre dividido Entre homem e mulher caminho mais diverso Determinando o fim do quanto poderia E nele ser além da mera fantasia Exposta cruelmente em cada e tolo verso Poetisa morta ou mesmo ainda em vida Escrava ou nada tanto o quanto não se vê O encanto merecia ao menos um por que E nele se mostrasse uma nova saída Esboço um sonho e tento a solução distante Por mais que ainda em não verdade se adiante.
13
“por mais que aquilo em que jamais se pode ser” A verdade absoluta expressa negação E dela se mostrando ainda o quanto em vão O medo de seguir estúpido poder Peçonha e mais peçonha a vida em dor intensa E nela, a própria vida, o peso do talvez Enquanto assim se urdindo imensa insensatez Será que talvez mesmo a morte é recompensa? Cansada de lutar ou tanto ou mais ou menos Os dias que pensei pudessem ser diversos Dos tão doridos vãos ingênuos dos meus versos Quem sabe noutros mais um dia bem serenos. Mas nada do que eu quero ainda pode em luz Mergulho no oceano o tanto ao qual me opus.
14
“Bem pode ser que tudo o que tenho sentido” Não tenha mais valia ou quem sabe bem pouca Na verdade se vê a face de uma louca Buscando a direção em tempo dividido Assisto ao meu final e não mais quero crer No quanto ainda pode ou mesmo se pudesse A sorte variada e nela a plena messe Matando a discordância, estúpido poder, Traçando diferença ausência de caminho Apenas poderia ainda ser feliz, Mas tanto a vida em treva expondo contradiz Deixando bem distante o que pensara em ninho, Mortalha em tom marinho, apenas o que tento E nesta imensidão, encontro enfim o alento...
VALMAR LOUMANN
|
|