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 HOMENAGEM A SAFOData 13/04/2010 14:57:27 | Tópico: Sonetos
 
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 “em taças de ouro.”
 Beber à farta
 Sorte descarta
 Ancoradouro
 Vivo tesouro
 Nunca se aparta
 Relendo a carta
 De vós me douro,
 Seria tanto
 Quanto tivesse
 Imensa messe
 Sobejo canto
 Sabendo enfim
 Do amor em mim.
 
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 “que tão graciosa serves para a festa,”
 E tanto quanto pode engalanais
 Vencendo com ternura os temporais
 O amor quando demais sempre nos gesta
 Não posso perceber qualquer tempesta
 Se em tanto tempo vivo tenho um cais
 E nele com certeza derramais
 Beleza sem igual ao sonho empresta
 A senda mais sublime dita a vida
 E dela se prepara a tão ungida
 Vontade de seguir vosso caminho,
 E quando mais encontro a correnteza
 Amor se transformando em fortaleza
 Dos deuses, neste instante eu me avizinho...
 
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 “e dá-me um pouco desse claro gozo”
 Sabendo desde quanto muito quer
 Quem conhecendo a fundo uma mulher
 Desfruta deste mar que é tão formoso
 E bebe cada gota e tanto sabe
 Diversidade transformando então
 O quanto posso neste tanto ter
 Vivendo sempre o divinal prazer
 Singrando tenras luas cevo o grão
 Sobeja glória divindade em vós
 Servindo tanto quanto posso além
 E sei da farta luz que agora tem
 Quem caminhando em senda assim feroz
 Desvenda cada passo rumo ao quanto
 O amor se mostra sempre em raro encanto.
 
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 “Apanhando grinaldas, vem, ó Musa”
 Traçar com sonhos fartos; noites belas
 E tanto quanto posso no amor revelas
 Belezas tão sobejas dor escusa
 E sinto ferve em nós vontade tanta
 Diversa luz em tom melhor e raro
 E quando amor além em ti declaro
 Uma alma bebe a sorte e então já canta
 Ao vislumbrar então clarão imenso
 Sabendo sempre deste tanto amor
 E nele vivo com fartura a flor
 Plantada em luz ao se mostrar intenso
 Desejo traça a sorte quando vejo
 Em ti sobeja glória em tal desejo.
 
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 “igual ao mel”
 Bebo da luz
 Que reproduz
 Caminho e céu
 Desvendo o véu
 Em contraluz
 Tanto seduz
 Amor fiel
 Reserva a sorte
 Impede o corte
 Transcendo quando
 Transformações
 Agora expões
 Nos dominando...
 
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 “e os anetos exalam seu aroma”
 Tomando em minhas mãos tanto carinho
 E nele com certeza se me aninho
 A vida em tempestade já se doma,
 Não posso prosseguir sem ter a soma
 Da qual e pela qual jamais sozinho
 O mundo transformando pão e vinho
 Com força a cada passo ora me toma,
 Resisto a tanto amor? Nem mesmo quando
 Pudesse resistir, mas me adentrando
 O quanto posso ainda acreditar
 No verso mais feliz, a dor se aplaca
 O amor fincando em mim a mansa estaca
 Permite novamente navegar.
 
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 “desabrocham as flores do carvalho”
 E delas eu percebo a bela senda
 Aonde tanto sonho já se atenda
 No quanto em farta luz em me amealho,
 Sentindo assim a sorte a cada atalho
 O quanto do prazer amor desvenda
 Não posso mais saber qualquer contenda
 Se em tanto brilho nunca me retalho
 Vagando por caminhos mais diversos
 Usando como bússolas meus versos
 Dispersos dias traço em luz enorme,
 E tanto poderia ser assim
 Amor domando cedo o meu jardim,
 Do quanto desejara sempre informe.
 
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 “Aqui num campo onde os cavalos pastam”
 Risonhas maravilhas, fontes claras
 E tanto quanto amor tu me declaras
 Os dias mais doridos já se afastam
 Os templos divinais só não me bastam
 Vivendo com ternura tais searas
 As sortes mais audazes; tanto amparas
 As dores vão além e se desgastam.
 Saber da plenitude deste encanto
 E quanto mais feliz, eu sei e canto
 O mundo mostra o brilho feito em sonho
 O quanto posso ter até reponho
 Cevando a glória e o fausto aonde posso
 Sentir divino encanto teu e nosso...
 
 
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 “uma sombra de rosas; cai o sono”
 E quanto me permito crer no todo
 A vida se traçando em tanto engodo
 Gerando a cada passo o quanto adono
 Do verso frágil manso tento e clono
 Viver fartura invés de dor e lodo
 Pudesse ter ao menos deste modo
 O amor querido e na verdade um dono
 Sabendo sempre o que talvez pudesse
 Sentir com toda a fúria a imensa messe
 Da qual e pela qual mergulho ainda
 Vivenciando o passo enquanto audaz
 E dele moldo a voz porquanto faz
 A sorte fera que este amor deslinda.
 
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 “em meio aos ramos; cobre este lugar”
 O corte dita o meu caminho em paz
 E dele todo mostra o quão mordaz
 O passo feito enquanto jogo ao mar
 A prenda lúdica traçando amar
 Se dela vejo o meu caminho e traz
 O quanto posso ou mesmo sou capaz
 E neste tanto quanto faço o altar
 Ao percorrer o meu sobejo mundo
 E quanto posso e mesmo enfim me inundo
 Do sonho vivo em tempestade atroz
 Sabendo deste sempre fero rio
 Aonde tento o verso e assim desfio
 Buscando tanto percorrer a foz.
 
 
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 “Aqui a água fria rumoreja calma,”
 E dela mesma se produz o canto
 Enquanto tento este possível manto
 Aonde todo fim traduzindo acalma
 E dele sinto mesmo terna luz
 Vencida pelo anseio medo ou corte
 E tento esguia noite feita um norte
 Aonde sempre ao adentrar conduz
 Traçando brusco caminhar presente
 Seguindo a sorte deste tosco mar
 E nele posso então viver o amar
 Diverso deste quando tanto sente
 A quem a noite transgredindo o sonho
 Deveras muito mais do quanto ponho.
 
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 “das folhas trêmulas
 Dos dias tais
 Meros cristais
 Do mar anêmolas
 Escassas vênulas
 Riscos iguais
 Aos magistrais
 Que ora em fórmulas
 Ditas prefácio
 Amor? É fácil?
 Bem sabes não
 Assim se vê
 Sem ter por que
 Nem direção.
 
 
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 “o odor do incenso”
 Amor refaz
 A sorte audaz
 Caminho imenso
 E quando penso
 Na minha paz
 Sede voraz
 Não recompenso
 No tanto posso
 No quanto faço
 Se tanto é nosso
 O que não traço
 Vivo remoço
 E me refaço.
 
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 “e dos altares sempre se levanta”
 A sorte tanta de quem sabe a luta
 E quando audaz se jamais reluta
 Vestindo enfim esta terrível manta
 E dela vejo o que se faz e espanta
 Quem tanto quis e na verdade astuta
 Percebe quando o caminhar disputa
 Com quem deveras ao sentir quebranta
 Pereço enquanto posso tanto ou menos
 Viver os dias que julguei amenos
 Ao mergulhar neste delírio insano
 E quando tento decifrar meu rumo
 Os erros fartos com certeza; assumo
 E sei deveras o meu próprio engano.
 
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 “ao redor há um bosque de macieiras”
 E nele sei do caminhar disperso
 Aonde tanto poderia um verso
 Falar da noite em que tu foges. Beiras.
 As sortes frágeis e deveras queiras
 Falar do quando se imagina imerso
 Quem pensa mesmo que se vê diverso
 Do quanto podem noites vãs, bandeiras
 E sinto cedo o tal terror sublime
 Aonde amor se mostraria um crime
 E sendo assim ao mergulhar além
 O quanto posso, mas jamais se crê
 No tanto quando procurar por que
 Embora saiba se esta luz convém.
 
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 “Eu vos rogo, ó cretenses, vinde ao templo”
 E sabei vós o que deveras sinto
 Neste vulcânico caminho extinto
 Enquanto amor ainda aqui; contemplo,
 Reflete então esta maior beleza
 E nela vejo o que não sei nem tento
 Calando agora em tanto amor o alento
 Sentindo mesmo ter tão grã pureza
 Quem na verdade ao se saber imensa
 Conhece o canto pelo qual me expresso
 O verso sáfico ao trazer começo
 Do encanto tal que deste amor convença
 A sorte rara pela qual a messe
 Sobeja glória em que este sonho tece.
 
 VALMAR LOUMANN
 
 
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