TSUNAMI Milene Sarquissiano
Olha, seu moço já virou rotina esse papo de chacina. Isso é coisa que eu ouço desde os tempos de menina quando eu era direita, bonita, e moça feita. Quando as vozes do morro imploravam socorro nos ouvidos surdos dos homens mudos, os chamados "doutores" que faziam horrores inclusive vistas grossas pra certos assassinos. E nas raras vezes que entravam na favela nos passavam em revista, nos chamavam de cadelas mandavam fechar a boca e só abrir pra comer o senhor sabe, o quê...
Olha, seu moço nunca tive diamante mas era ajeitada e limpa, limpa por dentro e por fora, era bonita e elegante tinha mais dentes que agora tinha motivos pra sorrir e até uma cama pra cair. Hoje só caio na real sem direito a aviso prévio sem direito a tropeçar primeiro nos meus sonhos.
Tá difícil, seu moço... Sem trabalho, dou trabalho. É barra segurar a onda quanto mais toda a maré. Então vou morrendo em vida afogada em tristezas, afinal... nadar contra a Tsunami, quem quer?
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