LEVE SOPRO

Data 18/04/2010 18:55:50 | Tópico: Textos -> Esperança

Enquanto os lençóis esterilizados te abafam e a sonda te conspurca o corpo, diz-me o instinto que neste momento estás amplamente rendido, e vencido pelos fragmentos orgânicos que vais vomitando em golfadas de agonia, te estás marimbando para os teus que tanto sofrem por ti. “Que se danem, não sabem o que isto é!” pois não, meu amigo. Não fazemos a mais ténue ideia do teu sofrimento.
Também tu não sabes da angústia da mãe, da mulher e da família que de olhos postos no céu se sente inoperante e reza aturdida. Não sabes do pânico de quem tanto te queria dizer algo e do medo que essas palavras nunca cheguem a ti. Não sabes de mim que de olhos fixos no nada, sei o que se avizinha, mas me recuso a aceitar. Não sabes, amigo, das piores e mais terríveis recordações que despertas em mim. Mas isso já foi, hoje estou aqui a torcer por ti com todas as minhas forças. Porque ainda acredito!
Não te esqueças tu, meu amigo, que enquanto exalares o mais leve sopro de vida terás sempre a última palavra a dar. A nós, seres inúteis e incapacitados neste mister de te ajudar, resta-nos dizer que te amamos e que aguardamos que decidas viver. Ainda.



Dedicado com muita ternura a um amigo que espero ainda ver brincar com o meu filho

18/04/2010



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