Crua a noite

Data 24/07/2007 17:28:49 | Tópico: Poemas

Reflexos tristes, estes que se escorrem
em arestas das bocas de cerejas brancas,
dos gestos que não fizemos.

Ruidosos os gritos da lousa erguida
na terra elevada em levas largas,
em ponteiros de relógios de sol,
sem medida, donde se soltam
larvas adiposas a profanar
a raiz das rubras rosas.

No rebusco, sugo a luz, bebo dos espaços,
perco o sentido,
o sentido dos passos
… dos nossos laços
… dos teu traços.

Ensandeço
nos zumbidos dos insectos incompletos -
crisálidas sem asas de ternura -,
prisioneira nos braços da noite derradeira,
continuadamente nua,
continuamente escura.

Crua a noite.

Vegeto sem rumo
em pinças tensas de dedos de greda,
donde se escorrem sumos sanguinolentos
e onde adormecem as madrugadas lentas.

… eram francas as palavras.



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