Surreal...(II)

Data 21/04/2010 02:22:03 | Tópico: Prosas Poéticas

Ao fim de alguns instantes, ainda não se tinha recomposto, permanecendo imóvel, como que paralisado e sem saber o que fazer, o que dizer e o que pensar.
Parecia uma serpente hipnotizada pela melodia da flauta mágica do seu encantador, estaticamente hirta assomando-se do interior de um cesto de palha redondo, numa qualquer rua da Índia.
Sem desviar os olhos dos seus e sabendo-o apanhado pela surpresa da sua inesperada chegada, ela moveu o corpo e começou a caminhar na sua direcção gingando as ancas de forma a fazer baloiçar o corpo para um lado e para o outro num ritmo bamboleante, perigosamente sensual, enquanto segurava aquele mesmo sorriso, capaz de lhe arrancar do fundo das entranhas do desejo os pensamentos mais luxuriantes que lhe provocassem um arrepio descarado e o fizessem estremecer inteirinho...
Ela sabia-o e queria-o!

Agora estava tão perto que se avançasse mais meio palmo, lhe tocaria sem o mínimo de esforço e lhe auscultaria a respiração acelerada... mas não o fez. Ao invés disso, preferiu roçar-lhe no braço ao de leve, encenando um gesto de inocente casualidade.
Era notória a excitação que lhe crescia a olhos vistos e correndo todos os riscos, tomou-a nos braços vigorosos e procurou-lhe os lábios carnudos e cálidos com os seus, numa ânsia faminta de um condenado a meses de pão e água...
Era iminente a urgência da satisfação dos corpos que se uniam agora como dois ímans poderosos, que, à maneira de um vulcão, explodiam lavas de prazeres indescritíveis...

E nos momentos que se seguiram, não mais pensou no branco que o engolira enquanto sonhava acordado (ou talvez a dormir) e o levara para um paraíso perdido num recanto do inconsciente, nem de onde viera ou para onde iria. Aquilo que estava a viver era tudo o que nunca imaginara que algum dia lhe sucederia. Ainda para mais, assim... vindo do nada!


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Surreal... (I)

Não era um chão como outro qualquer. Era branco como a neve, macio como o veludo e plano como a superfície de uma mesa. Ele deu meia dúzia de passos e parou olhando em redor, como quem olha em busca de algo que lhe seja familiar, mas não encontrou nada onde os seus olhos se quedassem. Nada. Simplesmente porque não havia nada! Apenas o branco imaculado daquele chão, que era também o horizonte e o céu. Parecia uma almofada gigante, fofa e macia, na qual se podia refastelar à vontade e dormir, quiça para sempre. Pensou que talvez tivesse morrido sem saber e aquele lugar era o que deveria ser o mais parecido com o paraíso. Mas... onde estavam as planícies verdejantes, os cavalos a correr, os pássaros a voar, as crianças a brincar?!... tudo aquilo que imaginava existir no paraíso e não apenas o branco em que estava literalmente mergulhado e completamente absorvido!

Tentou recordar-se da ultima coisa que fez antes de se achar naquele lugar, mas nem isso conseguiu. Apenas estava ali, só, e sem saber como nem porquê.

E quando já tinha gasto todas as perguntas que se fez a si próprio, sem obter qualquer resposta aceitável que não fossem apenas suposições e conjecturas sobre hipotéticas teorias de coisa nenhuma, ela apareceu do nada e emudeceu-lhe todas as palavras que a sua boca tivesse vontade de proferir...

Seria uma visão? Um delírio? Ou seria aquele o castigo que lhe fora dado pelos delitos cometidos numa outra vida e dos quais não se recordava...

Fosse como fosse, uma coisa era certa, ela estava ali, parecia real e provocava-o de uma forma brutal com aquele sorriso malicioso e arrebatador!...



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