Era do rádio

Data 22/04/2010 17:38:11 | Tópico: Crónicas










Lembro-me que no finalzinho da década de cinqüenta, com mais ou menos oito anos eu ia ouvir rádio na casa de um vizinho que morava aproximadamente cento e vinte metros da nossa casa. Era um rádio de válvulas da marca Semp, um dos primeiros rádios fabricados aqui no Brasil. Não tenho certeza se era brasileiro. Em 1962 meu pai adquiriu um rádio de mesa da marca Pioneer, desses que possuíam uma grande pilha que pesava mais ou menos dez quilos. Na cumeeira de nossa casa foram pregadas duas ripas de aproximadamente oitenta centímetros, uma em cada lado da casa, aí foi amarrada uma antena de arames finos, bem transada. Desta antena descia pelo telhado um fio que chegava ao rádio. Havia outro fio que saía do rádio e descia pelo soalho da casa até ser aterrado no chão que era chamado de fio terra. Este rádio tinha mais ou menos sessenta centímetros de frente, vinte e cinco de lado e trinta e cinco de altura.
A gente ouviu a copa de 62 neste aparelho que era ligado duas ou três horas por dia para que a sua pilha não acabasse tão depressa. Durava em torno de quatro a cinco meses e era caríssima. Neste rádio a gente acompanhava os grandes locutores esportivos do Rádio Paulista e Carioca como Pedro Luiz, Mario Moraes, Fiori Gigliotti, Mauro Pinheiro, Valdir Amaral e muitos outros. Acompanhávamos também as duplas sertanejas como Tonico e Tinoco, Zico e Zeca, José Fortuna e Pitangueira, Pedro Bento e Zé da Estrada, Tibagi e Miltinho, Nenete e Dorinho e muitas outras do gênero. Ouvíamos também Francisco Alves, Nelson Gonçalves, Miltinho, Emilinha Borba, Angela Maria e muitos outros cantores que faziam sucesso naquela época como o início da carreira de Roberto Carlos e toda a turma da Jovem Guarda. Eu sabia quase que de cor a escalação de todos os principais times do Brasil e principalmente do Estado de São Paulo. Com o evento do transistor, meu pai adquiriu no final deste mesmo ano de 1962 um rádio um pouco menor já tocado com quatro pilhas de farolete. Aí então ouvia-se rádio quase o dia todo. Até as novelas a gente seguia. Lembro-me das rádio-novelas “O homem que deve morrer”, “Três homens sem medo", “O direito de nascer” e muitas outras, mas todas eram patrocinadas pelas "Indústrias Gessy/Lever. Das séries "Juvêncio - O Justiceiro do Sertão" ( com o menino Juquinha) e de "Jerônimo- O herói do sertão"(com o moleque Saci), criaçao de Moisés Weltman. Também me lembro dos Programas da Rádio Bandeirantes, nos domingos de manhã, comandados pelo Capitão Furtado, onde cantavam duplas do Brasil todo. Também para mim são inesquecíveis os Programas “Grande Rodeio Coringa” que era apresentado por Darcy Fagundes e Luiz de Meneses na Rádio Farroupilha de Porto Alegre, todos os domingos às nove horas da noite, os humorísticos PRK-30 e Charutinho, este último na Rádio Record. Ainda recordo dos Programas de Luiz Gonzaga na Rádio Tupy do Rio de Janeiro e também do Programa onde se apresentava a Dupla Jararaca e Ratinho na Rádio Mayrink Veiga do Rio. Em 1963 meu irmão mais velho do que eu adquiriu um rádio portátil, com quatro pilhas médias da marca Semp. Este rádio era levado para todos os lados e até para a roça quando havia jogos à tarde em dias de semana. Em fim para mim o rádio era sempre uma festa no meu tempo de criança no sítio onde eu morava. Dos meus doze aos vinte anos ouvia rádio em média de oito a doze horas por dia, daí em diante com o presença da televisão, com meu trabalho e com o estudo à noite é que parei de ouvir rádio diariamente.

jmd/Maringá, 23.04.10


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