Por vezes, a vontade dói...

Data 24/04/2010 10:53:29 | Tópico: Poemas


Que o digam os meus ossos, calcinados da busca nas minas onde me encantaram a coragem. Até as pestanas me saíram queimadas, e o que escrevo, ao desabrigo da sombra delas, já nem sei se me é seguro refúgio ou poço de perdição. Dói-me a vontade de subir, arriscar sair da mina que me errou.
Eu sei, ainda sei, que há uma jazida de ouro, algures, nas veias correntes dos subterrâneos que piso... Mas nem sempre há palavras que me indiquem o caminho, e, se não me apoio nas palavras, que mais me resta...? A caixa de Pandora ameaça-me, à luz crua da trémula vontade: são muitas as pragas acumuladas, as dores sobrepostas, os medos engolidos.
Dói-me a vontade, doente de dores insuspeitas.
E não me venham julgar as aparências, porque, essas, enterrei-as ainda mais fundo que a mina que me desencantou e marquei-as com cruz pesada, que não ousei mutilar! Não, não me venham, piedosos ou desprezantes, dizer que as usasse, antes, para escalar fronteiras e derrubar precipícios! Dói-me a vontade, não vêem?...
Talvez amanhã...
Talvez amanhã, a luz que eu deixar em rasto de lenda, me vitamine os ossos e me ressuscite a força.
Hoje não, que me dói (ainda) a alma...



Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=129666