ANGÚSTIA DO POETA ANTE A FOLHA VAZIA

Data 07/05/2010 20:41:05 | Tópico: Poemas

Preso numa teia de difusos sentimentos
Mergulho no marasmo pardo do labirinto
Inquietas sirenes me estrangulam os pensamentos
E não sou capaz de descrever o que sinto

Frio como mármore de túmulos dispersos
Este alvor deserto me confunde e intima
Tropeço nas virgulas dos próprios versos
E sinto-me impotente para acertar a rima

Com os dedos manchados de silêncio dorido
Busco a luz perdida num cais distante
Guiando o leme do lápis emudecido
Por entre névoas e ondulação inconstante

Subitamente recordo teu rosto iluminado
E uma fresta de luz se abre na escuridão
Teu sorriso, resgatado aos abismos do passado,
Por momentos, liberta-me das garras da solidão

Por entre as margens do papel enrugado
Busco nos teus lábios um calor antigo
Mas meu gesto, confuso e precipitado,
Te devolve à treva de um oculto postigo

De novo se quebram os espelhos da inspiração
Resvalando nos abismos de um universo sombrio
E fico, uma vez mais, com esta folha branca na mão
Tolhido na métrica de um poema vazio



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