Sete Sentidos

Data 08/05/2010 14:17:52 | Tópico: Poemas


Numa tarde de Maio
sem nada para fazer
recolhido em mim,
sinto o afago do teu pensar,
espreito a chuva miudinha lá fora,
a gota que se espreguiça
lentamente pela vidraça,
as árvores que plantei
num arremedo de me fazer homem,
cujos ramos curvam ao peso
dos frutos que hão-de ser maduros,
como essa ternura em que me envolves
separada pela distancia em que te consomes,
bem-querer nunca aplacado.

Flor do Maio do meu contentamento,
resguardo de ferida que não quer sarar,
escreves-me de dentes em riste,
respondo em desejo ameno
sem pressas nem torturas
de tempo que não quer passar.
Penduro as horas no sentir da eternidade
em que me sustentas.

Doce a água que do céu brota,
colírio de sal que humedece o prazer
da memória do teu corpo salgado
preso ao cerne em que te arqueias.
Sinto-te fábula de sete sentidos,
os cinco mais nós os dois,
numa invenção que só nós sabemos
pintados em arabescos
que a chuva não desbota,
imprimidos a suor,
pintados em orgasmos de sóis e luas
que a vista não alcança,
só o entrelaçar de corpos
zurzidos pela tarde de Maio
aconchegados no palato e no olfacto
que no ar se enovela,
exaurido pelo teu respirar sereno e nu
depois de dobrarmos o cabo das tormentas.




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