Numa tarde de Maio sem nada para fazer recolhido em mim, sinto o afago do teu pensar, espreito a chuva miudinha lá fora, a gota que se espreguiça lentamente pela vidraça, as árvores que plantei num arremedo de me fazer homem, cujos ramos curvam ao peso dos frutos que hão-de ser maduros, como essa ternura em que me envolves separada pela distancia em que te consomes, bem-querer nunca aplacado.
Flor do Maio do meu contentamento, resguardo de ferida que não quer sarar, escreves-me de dentes em riste, respondo em desejo ameno sem pressas nem torturas de tempo que não quer passar. Penduro as horas no sentir da eternidade em que me sustentas.
Doce a água que do céu brota, colírio de sal que humedece o prazer da memória do teu corpo salgado preso ao cerne em que te arqueias. Sinto-te fábula de sete sentidos, os cinco mais nós os dois, numa invenção que só nós sabemos pintados em arabescos que a chuva não desbota, imprimidos a suor, pintados em orgasmos de sóis e luas que a vista não alcança, só o entrelaçar de corpos zurzidos pela tarde de Maio aconchegados no palato e no olfacto que no ar se enovela, exaurido pelo teu respirar sereno e nu depois de dobrarmos o cabo das tormentas.
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