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Data 08/05/2010 22:08:04 | Tópico: Poemas

Abro a porta, como quem abre o destino
Ao entrar, esperam-me dois gatos
Sentados lado a lado, uma moldura perfeita
Engana a minha noite desfeita
Ao seu alegre miar, sorrio com olhos gastos

Entro pé ante pé, não acordem as paredes
Ou quem sabe o silencio, grite de uma só vez
Chegaste querida, como foi o teu dia
Responder-lhe-ia, não sei, estou com azia
O silêncio amuado, olhar-me-ia de revês

Mas o silêncio é surdo, não deu por mim
Sigo em frente, ligo a televisão
Uma mulher esbelta, lembra-me que estou gorda
Mas que raio, isto é que está uma açorda
Desligo o aparelho com um safanão

Os gatos olham-me de soslaio
E miam entre si
Não lhe ligues, ela não sabe o que faz
Tiro a lata de comida de dentro do cabaz
Os gatos aos pulos. Finjo que não vi

O balde do lixo, deitado no chão
Apanho tudo. Deito o olho ao cuco
Quem sabe ele me dirá que vale a pena
Manter-me serena
Mas responde, cu, cu, olho-o e solto um soluço

Que raio de vida
A que arranjei
Trabalho, casa
Onde é que errei.

Antónia Ruivo

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