Dimensão Possível *

Data 12/05/2010 17:18:00 | Tópico: Poemas -> Sociais

A alma da gente
não vai até aos pés como pensam os fiéis.
Ela termina no estômago
onde é preparado o vômito do dia seguinte.

Deuses, anjos e demônios
rodeiam a cabeça de quem vomita almas
e come de sobremesa a lama dos dias.

A calma da gente
não vai até os pés como sonham os coronéis.
Ela é rala e termina na boca,
onde é preparado um escárnio violento
que desenrola a mordaça do cimento.

A lama da gente
não sufoca somente os pés.
Ela corrói até à garganta,
deixando em pó o pisar seguro.

E a trama
não é um sonho imaturo e adolescente
à espera de um impulso adulto
para fazer da arma um conduto ao ridículo.

* Série de Poemas manuscritos nos anos 70, período da ditadura militar no Brasil, por um jovem poeta Anônimo (o nome não me foi dado conhecer à época).



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