Cai a noite na estação de Campanhã

Data 13/05/2010 21:09:43 | Tópico: Poemas


Seria aquela noite a derradeira,
A noite mais negra empalidecida
Sem sombras, nem contra-luz
Velando o sono da adormecida.

Num torpor do lusco-fusco
Enquanto a noite entardecia
Escondida no recôndito
Onde serena dormia a Maria

Maria sem rosto, igual a todas
Podia ser homem, mas era mulher
A Maria que vos canto assim
Como quem desfolha o malmequer

Aquela noite podia ser hoje
Pode até ser já amanhã
A noite da Maria dormir
Num banco de Campanhã

Suspensa na vontade de viver
E no apelo da doce morte
Deitada de lado no banco raso
Espera a hora de deitar a sorte

Quando me olha atravessa-me
Como se visse para lá de mim
Indiferente acelero o passo
Viro costas às Marias sem fim.




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