
NUMA VARANDA DO LABIRINTO
Data 16/05/2010 20:56:43 | Tópico: Poemas
| Sentei-me numa varanda do labirinto, a ver a noite desfiar um rosário de sombras vagas e a arrastar no assoalho dos céus o vestido rasgado pelas mãos sujas da ventania. É meia noite e chove. Espreitando entre véus de algodão pardo, a Lua devora um naco de escuridão. Um cutelo de água fria, esventra o corpo adormecido da calçada. Repetidamente o esfaqueia, até se cansar, e, num ápice, se transforma num lençol transparente.
Um caranguejo de lama, vagueia pelas esquinas, batendo a todas as portas. Num enregelado delírio, palmilha os rochedos de alcatrão, espirra nas margens de uma sarjeta e vai desovar no seio das vielas. Ao longe, um rumor de vozes fervilha, como inquieto lamento de mil tambores, e eu, aqui, numa varanda do labirinto, hesitante, entre esperar o amanhecer ou me render aos fantasmas do sono.
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