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Data 18/05/2010 19:08:01 | Tópico: Textos








sempre soube desta casa, do estendal atrás dela, do candeeiro quase partido na sala, desta janela. sempre soube que haveria daqui voltar com a tua voz ao pescoço. a vida pouco sei dela, nem de mim dentro dela, nem do lugar desta casa nela. se me vires passar por ti abraça-me, não me deixes ir. onde tu estás é um campo de urtigas e silvas rasas onde antes havia um baloiço feito de pau de pinheiro. tinhamos as pernas tão pequenas, nunca chegamos ao chão com elas, lembro. não queiras saber dos meus olhos, restos de rostos, suor, sangue, lágrimas, e o resto. não queiras saber de como crescem as heras no tanque, de como nascem pássaros na tapada. fecha os olhos. sempre soube desta casa. quando descias a passo a sebe e vinhas com a vida às costas falar-me de outros lugares.onde estavas quando abri os braços e estiquei as pernas. onde estavas quando as abelhas me sobrevoaram os cabelos e os grilos vieram buscar à minha pele alimento para outras estações, como esta. andavas perdido. andavas morto. nunca conheceste a superfície das pétalas. sei aqui uma paisagem densa, como lançar o coração peito fora e esperar que volte à noite, com o recolher das andorinhas. onde estavas quando deitaram abaixo a carvalha grande e alargaram o caminho. onde estavas quando nasci.









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