Recordações

Data 19/05/2010 03:19:45 | Tópico: Textos -> Outros

Quando olhei aquela árvore pela última vez senti uma angústia, um ar de despedida...
Era como se ela estivesse triste por se separar daquela que todo dia ao acordar sentia seu cheiro, ficava sob ela pra se proteger do sol e receber seu ar puro, tão difícil de sentir naquela imensa cidade.
As plantas ao seu redor estavam verdinhas e bem cuidadas em um grande espaço reservado só para elas, para que pudessem crescer e transformar aquele lugar em um ambiente agradável.
Por ser o último dia ao lado delas, passei a observá-las detalhadamente, observei até mesmo os insetos que andavam sobre suas folhas. Aproximei-me delas, e como uma criança comecei a conversar ... Parece estranho, mas percebi que aos poucos suas folhas ficavam murchas, era como se elas estivessem sentindo que a qualquer momento eu iria partir.
Amanheceu. Era hora de arrumar as bagagens e pegar a estrada. Mas antes, senti a necessidade de observar cômodo por cômodo daquela casa onde passei dezessete anos da minha vida, onde passei tantas alegrias, tristezas, reuni amigos e familiares. Resolvi então subir as escadas que levavam até a parte superior da casa, onde podia observar as outras casas do bairro. As lágrimas escaparam dos meus olhos comecei então a lembrar de todos os momentos em que passei naquele lugar. É incrível, mas ainda hoje sei de todos os detalhes daquela casa, sou capaz de descrevê-la perfeitamente, sei exatamente o local onde ficavam os móveis, os objetos, os quadros... até as imperfeições da pintura da parede me recordo, é como se eu estivesse lá freqüentemente...
A hora mais triste, foi quando tive de trancar as portas, as janelas... estava deixando dentro daquela casa toda minha vida. Enquanto o carro saía da garagem, meus olhos não piscavam, olhava com tanta atenção que nada seria capaz de desviar meu olhar. Enquanto o carro subia a ladeira da rua, eu continuava observando a casa que se distanciava aos poucos.
Quando já não podia mais avistá-la, comecei a olhar as outras casas, suas cores, modelos, coisas que antes nunca havia parado para observar, pois, não faziam a menor diferença porque para mim elas assim como eu, estariam sempre ali.
Ficando cada vez mais distante da minha cidade, fui me distraindo e esquecendo aos poucos. Às vezes, eu tinha a sensação de que seria apenas uma viagem e que logo estaria voltando para aquele lugar. Passaram-se horas, dias e a sensação continuava, e só então percebi que não era apenas uma viagem, mas sim uma ida que não sabia ao qual se teria volta, e se a tivesse não sabia quando aconteceria.
Seria mentira se eu dissesse que não sinto mais saudades daquele lugar, ou se dissesse que já me acostumei com o lugar que vivo. Aqui não tenho com quem compartilhar das mesmas emoções vividas, das histórias... Porque aqui é outro lugar, é um lugar diferente, com pessoas diferentes das quais pude conviver. Aqui é um novo começo... Não que seja impossível, mas não é fácil começar uma nova história. Com personagens e cenários diferentes. Creio que ainda necessito de tempo para isso...
Confesso que a saudade é muita... Posso não encontrar aqui uma árvore semelhante àquela que me protegia do sol, uma casa que não possui os mesmos detalhes, ou os familiares e amigos que alegravam os meus dias. Isso pouco importa, porque aonde quer que eu vá levarei todas essas lembranças comigo, e mesmo não encontrando aqui o que aquela imensa cidade oferecia, as recordações estarão vivas dentro de mim, dentro do meu coração, em um lugar onde ninguém será capaz de apagar. Elas ficarão comigo, para sempre!


Escrevi este texto porque senti a necessidade de expressar a imensa saudade e as recordações que tenho da minha cidade Guarulhos em São Paulo.



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