Encenações por detrás dos espelhos

Data 19/05/2010 09:43:04 | Tópico: Textos

- Se por um momento só, descobrisse onde param as palavras que me fugiram por entre os dedos, enquanto esperava a hora certa de te escrever uma só frase, tu serias mais que uma forma entre as várias existentes, num conjunto infinito de palavras.

Serão sempre elas que nos guiarão enquanto meros espectadores num recinto apropriado para as várias encenações por detrás dos espelhos. De lá, sairão as mais belas e revigoradas palavras; delicadas, amorosas, belas, ternas, calorosas… enfim, todas aquelas que nos farão abrir os olhos de manhã, após uma noite abençoada. Mas se por um acaso, as imagens reflectidas forem as da nossa morte anunciada, passaremos para outro estado de vigília, através de um olhar predisposto a tudo, mas sem deixarmos de cair em desgraça nos vários espaços que se criaram para o efeito. (Causas que a vida tece, sobre os efeitos que ao mundo obedece). Contudo, para que todas elas fomentem a nossa imagem desfocada precisaremos de as envolver através de uma boa dose de humor, ou então uma boa e ornamentada floreira de várias cores, e que darão azo a tantas verdades, mas também a outras inverdades, castradoras de muitos nomes e de outros registos informativos de um tempo que foi de todos, e agora a ninguém pertence.

- Imagina-as nessa boca onde guardas todos os desejos que teu corpo te pede, e verás que há palavras que te conduzem ao todo uniforme, mas se por acaso as imaginares nuas de gestos e pobres de letras que não consigam formar uma só palavra, nem um sorriso conseguirás esboçar, pois ele não te alcançará como o imaginaste, e aí, informe a falta de frases compostas, ditar-se-ão só pela metade.

Pensaram, repensaram e concluíram (as palavras), que para termos todas as que merecemos e que formem um bom conjunto de palavras vivas, e por consequência nos façam sentir também aquela vivacidade que a todos faz sorrir e sentir uma boa dose de energia quente e aconchegante, subindo pelo nosso corpo sempre que sentimos um pico de felicidade, será preciso irmos em busca delas; as genuínas, as nossas, que por terem a mesma sonoridade que todas as outras, têm-nos a nós num modus vivendus que ninguém ousará profanar.

- Encontra-te em todas as tuas palavras e descobrirás algumas que ainda não conheces: se por um lado elas são castradoras e fomentadoras de discórdias e até condutoras de fios gástricos a qualquer organismo vivo, por outro, são a leveza e a transparência que te mostrará que por detrás das imagens reflectidas nos vários espelhos enviesados, há muito ainda por descobrir, se para elas olhares com olhar certeiro e curandeiro dos mais afincados gestos, catalisadores vs receptores de um mundo que não conheces mas que sempre ali esteve só para ti.


Deixemo-las por acontecer, para que consigam encontrar uma forma viva dentro das suas consistentes aventuras neste mundo. Ganharão vida nova e novas forma de vida sempre a atingir os mais altos níveis sensoriais, cumulativos de outras forças parcialmente aceites num mundo onde só resta esperar pela morte de todas as palavras que se conhecem.









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