Pelo amanha hortelã dos olhos

Data 26/05/2010 05:06:25 | Tópico: Duetos


De outras vezes vinhas, como quem morde os sonhos, rente aos ossos. Por dentro do corpo. Adormecias o vento sequioso das promessas feitas, no negro orvalho dos pensamentos ditos em voz alta. A tua boca, procurava alguém que a possuísse. Era assim, que tu trazias vida ao que fora morto por ti. Deixavas que os dedos absorvessem o lençol da carne nos locais privados e rias como uma adolescente quando abre a concha e mostra a pérola pela primeira vez. Uma felicidade francesa acompanha-me sempre que te recordo.
Outras noites há como tu, frágeis, circulando a memoria, atirando pedras às estrelas, comendo urtigas que se encontram, no lugar que fora do coração. Porque temos a necessidade de ferir o amor na curva do lume, ou então joga-lo para um baralho de cartas viciadas. Pensei em te perder e por isso escondi-me atrás dos livros, atrás da própria escrita e houve momentos em que não vinhas. Mas sempre estiveste comigo. Folheando os dias humedecendo as horas, silenciando os minutos. Somos da solidão feitos ,da fotografia cicuta ,dos objectos homens encontrados nas ruas. Espero pelo amanha. Pelo amanha hortelã dos olhos. Pelos pássaros que levantam voo no amanhecer das vidraças. E aí estamos nós, com o desejo de morrer. Vem morrer comigo.





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