SONS DO SILÊNCIO

Data 28/05/2010 18:32:06 | Tópico: Poemas

Ouvi-te,
silêncio triste,
uivando fomes lá fora,
como cão vadio e magro...

Lancei-te,
silêncio triste,
uma côdea do passado,
com travo a bolor amargo.

Senti-te,
silêncio triste,
lamber-me as mãos calejadas
pela noite em que me agarro.

E dei-te,
silêncio triste,
os sons dos grilos na eira,
o correr da água ao largo,
o esbater do dar-horas
nas pedras nuas do adro,
o morrer duma cantiga
na garganta já sem garbo,
a dolência duma voz
a anunciar fados na rádio,
o tresmalhar dos amantes
nas ruas do são pecado,
o crepitar da lareira
queimando vides do fardo,
o ronronar do meu gato
adormecendo a meu lado...

Ouvi-me,
silêncio triste,
nas saudades que hoje lavro...

Ouvi-te,
silêncio triste,
num tempo antigo que trago
no peito onde traíste
esta terra onde me escavo...





Kenny G (The Moment)


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=134884