lisboa ao caopoeta

Data 30/05/2010 15:29:33 | Tópico: Textos





lisboa, 29 de maio de 2010







tinha de lisboa a memória de um dia claro de infância, descer as escadas do prédio com um vestido branco de comunhão, no cabelo uma trança, ia-se casar um primo, chamava-se jorge e nunca mais o voltei a ver. mas lisboa é mais do que a memória das escadas do prédio, do vestido branco, da trança. lisboa é mar, é encontrar-me as paisagens de dentro, construir-me outras memórias: quedas do corpo; água; docas; praia; sal; semáforos; comida mexicana; pessoas comuns; lugares desertos; solidão. onde estavas não sei. eu andava às voltas, o corpo pendente para o lado esquerdo, pesam no coração estas imagens, a ânsia de as guardar. tenho pena que não tenhas aqui estado, nem visses nos olhos do zé as lágrimas quando ao falar de si se encontrou mais homem que escritor mais escritor que homem; quando me cresceu na voz a poesia do antónio e quase fui a saudade dessas palavras impossíveis de se ouvir senão por dentro. estou cheia de ondes de lugares de nadas. desmembrar praias, secar os pés, falar com o vento. tenho pena que não tenhas aqui estado para me veres sorrir como quem chora, passar como quem fica para sempre.











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