às vezes ao domingo

Data 31/05/2010 19:53:51 | Tópico: Textos

ao sampaio(r)ego










às vezes ao domingo choro, é quando me apercebo da solidão, que humanizo objectos, digo olá às paredes, falo com o espaço. tudo ao domingo, sobretudo quando o coração se lança ao vento. às vezes ao domingo leio palavras do bernardo de almeida ou do casimiro brito e explico à sala o que é ter um amor,um único que seja. é por ser domingo e eu não ter ido à missa, nem acreditar nos santos e nos padres e nos deuses, nem nas viúvas. às vezes ao domingo ligo à minha mãe, quero dar-lhe um estalo mas ela grita que agora não lhe dá jeito e desliga. é sempre assim aos domingos porque há bola e estão lá todos. perderam-me num domingo, adormeci ao colo, quando abri os olhos não havia nenhum corpo, estava suspensa numa lágrima. às vezes ao domingo vou varanda dentro, inclino-me, para os ver passar em desalinho, os meus amores, os meus passados amores. é sempre ao domingo que me mato e nos dias restantes se não me mato é porque me estou a guardar para domingo, e se te digo isto hoje a ti é porque tu também sabes o que é nascer com um domingo atravessado no peito.

















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