apresento-me nu
Data 31/05/2010 21:33:04 | Tópico: Poemas
| Sigam a rusga por mim adentro, vasculhem os ínfimos cantos da minha aura. Auscultem-me os ossos, sigam-me as articulações, partam-me o fígado aos gomos e analisem as excreções, rasguem-me os bolsos do coração, cheirem-me as emoções. Não tenho cantos secretos nem cofres de combinações impossíveis, de nudez absoluta sem constrangimentos nem falsas vaidades.
Mas entrem senhores, abanquem-se senhoras nesse abanar de leque indiferente e ridículo e procurem, analisem, cheirem que de mim encontrarão a palavra sem subterfúgios, com quimeras, sim ás vezes mas quem não sonha, quem não busca a eternidade no fogo fátuo de uma rima, o traço perfeito na textura de um fresco, esculpir a escopro e martelo na pedra bruta o sorriso de uma criança? No sonho não me escondo, no sonho desnudo-me, rasgo os limites que me impõem com a confiança da águia em queda livre sobre a presa. Sou a utopia incarnada e palpável, sem asas mas voo para lá do que a vista alcança. Que de mim se diga que sonhei, sonhei sempre.
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