de como uma abelha se tranforma em lesma

Data 03/06/2010 18:16:57 | Tópico: Crónicas


Havia na pequena floresta uma colmeia pequenina, com tanto mel que escorria pelos bordos, um mel raro que admirava a quem o provava e depressa se viciava. Era pela sua qualidade um bem apetecível aos outros animais da floresta, todo o mel laborado com afinco pelas abelhas num zum-zum imparável o dia todo. Havia as obreiras que fabricavam o mel e competiam entre si para fazer o melhor e iam-se rodeando de abelhas guerreiras que pouco ou nenhum mel produziam mas eram muito ajeitadas na arte de ferroar e bastava alguém não gostar do mel da abelhinha obreira e vinham as guerreiras com aguilhões. Ora uma delas, além de produzir mel achava que o dela é que era e fazia com que todos os animaizinhos rastejantes em volta fossem só provar o mel dela, logo enviando em missão as guerreiras a fim de persuadir todos a só provar o mel dela. Se uma das guerreiras se aborrecia do seu trabalho secundário durante uns tempos a própria obreira encetava esse trabalho de persuasão e dissuasão de provar o mel alheio, o dela é que era. Ora cada vez se esforçava por fazer mais e melhor mel com excreções diárias a um ritmo tal que rapidamente se tornou a mais produtiva a fim de abastecer toda a trupe de minhocas que ela tão pacientemente aliciava com recadinhos e até chantagens para assim ser a produtora numero 1 da colmeia.
E assim a abelhinha dantes tão dedicada, por via dos truques que usava para todos provarem o seu mel achou que o produto já tinha a doçura desejada, achou que não tinha que comparar o seu mel com os outros. Que o seu era o mais doce, o mais aveludado o mais apetecível mas sempre que lhe gabavam o doce mel ela respondia chamando as outras igualmente de obreiras quando não mais eram que simples minhocas. Mas lá no fundo sabia que ela sim, era a obreira as outras simples invertebrados deixando gosma por onde passavam. Sempre que aparecia uma nova obreira logo volteava em conjunto com as guerreiras para rapidamente a transformar em mais uma minhoca gosmenta, de inicio gabando o seu mel depois aproveitando a gosma delas para adocicar o próprio. Nesse ínterim como não comia mais nenhum mel e o pouco que comia fora era só mesmo para angariar mais e mais provas do seu obrigando as guerreiras a proceder igual a obreira foi ficando cada vez mais gorda, já que o seu mel não continha ómega-3. Engordou, engordou e tornou-se uma lesma irascível e rabugenta cuja gosma por onde passa deixa um rasto de ácido sulfúrico começando a contaminar pelo cheiro as outras obreiras cujo mel ficou afectado.
Hoje em vez de mel debita cera para produzir velas á morte anunciada da colmeia ferida de morte. Já se perfilam as carpideiras em trajes pastorícios com tiradas bíblicas a preceito que vão paulatinamente com as suas arengas glorificadoras, substituindo o mel que outrora corria, pelas gotas de cera que lhes escorre das velas que carregam na triste procissão.




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