sexta-feira. quase noite.

Data 04/06/2010 19:22:07 | Tópico: Textos







lembro-me de uma sexta-feira, quase noite, a minha mãe dera-me um par de estalos por ter assaltado de improviso a caixa dos chocolates. semanas antes tinha-me dito que ali não podia mexer e lembro-me de pensar, ingenuamente, que ali escondia uma surpresa, para me dar mais tarde se me portasse bem ou se tirasse boas notas. como tal não aconteceu tomei de assalto a caixa. subi ao banco da cozinha, puxei a caixa e abri. eram chocolates embrulhados em papéis de todas as cores, comi um e tirei dois que guardei no bolso para comer mais tarde. o plástico da embalagem escondio no bolso dos calções. as memórias dessa sexta-feira só me perturbam agora, depois de te ler. quando era pequena acordava muito cedo, ia soltar as vacas à tapada, dava de beber aos patos e às galinhas, ia depois para a escola. tinha pela escola uma terrível afeição. quase sempre calada, na última fila a gatafunhar palavras numa folha: lembro-me de mim assim pequena e choro. até da camisola amarela com um laço cor-de-rosa à frente, cores que agora não suporto. até por essa camisola me apetece chorar. já ao fim da tarde vinha monte fora a correr, perseguia borboletas, pássaros, moscas, tudo o que tivesse asas, muitas vezes me distraía das horas às voltas aos pinheiros. e tudo isto agora me perturba depois de te ler.










Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=135900