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Data 06/06/2010 11:16:54 | Tópico: Poemas

Ó cinzas que caiem hirtas,
Porque caem afinal
Não pensem que ficam extintas
Só porque querem, está mal

Submergem as palavras, submergem
Numa euforia, tristonha
E as almas deslizam no trem
De uma ideia enfadonha

Gela em cada um a tristeza
Sem dar conta, o pano cai
Meu deus rezam sem destreza
E deus dorme, como os demais

E num abismo sem fundo
Caem sempre aos trambolhões
Deitam as mãos à cabeça, num grito mudo
Olhem, olhem, como somos campeões

Por adiante, se persegue
Sem tino ou rumo certo
Afinal é pequenino o sinónimo que o segue
Aperto, talvez destino, nublado e encoberto

E eu aqui sem ver nada,
Nada que valha a pena
Ó cinzas que estão tresmalhadas
Por uma qualquer vintena

Se me lerem, e não souberem
O que escrevo afinal,
Quem sabe me compreendem
Se escrever sobre o banal

Mas disso não sou capaz, gosto de escrever sob cinzas
Imagino-me num vulcão, um rio de lava vermelha.

Antónia Ruivo

















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