A Velha Máquina de Escrever

Data 06/06/2010 15:46:02 | Tópico: Prosas Poéticas

Com minha velha máquina de escrever, olho na janela o sol quebrar a cortina com sua luz diáfana, amarelada e poeirenta. Carros e pessoas se misturam ao som vulgar que enlouquece a minha insensata agonia de existir num mundo que nunca (e nem pensando que vai) existiu. Sou a própria angústia rastejante de minha insígnia branca, de pele quase cinzenta: morto-vivo! Não respiro. Corro de minha cama! Quero ficar em silêncio para que não me achem dentro do meu guarda-roupas. Converso com meu terno velho e lhe pergunto por quanto tempo ele caminhou comigo nas ruas dessa cidade diabolicamente construída para ostentar porcos poderosos em seus tronos entalhados por falsos querubins. Sinto falta de ar, quero embriagar-me de luxúria nos seios de uma mulher! Quero sentir meus pés flutuarem enquanto piso firme para desfazer uma dormência. Vou para a janela. O dia vai se despedindo triste e maculado por todos os seres viventes (do ácaro ao elefante!). Vivo no subterrâneo de meus sentimentos obscuros e frágeis. Uma xícara de café....um gole de conhaque...a máquina de escrever...fuga para a insanidade metafísica da criação. Deus, o Criador, foi o louco mais perfeito! Ele quem fez todos os loucos & programou todas as loucuras da humanidade & pôs à prova dos loucos, sabendo que o mundo se tornaria o maior hospício do cosmo!!! A velha máquina de escrever me faz um deus. Sento-me em minha cama, esmago como um elefante milhões de ácaros que se alimentam de minha carne podre durante minhas viagens oníricas e crio um novo mundo!


www.romulonarducci.blogspot.com


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=136188