Leituras 10 – António MR Martins

Data 07/06/2010 22:58:36 | Tópico: Poemas

Escolhi como número dez desta minha série de autores que se movimentam no Luso-Poemas, António MR Martins e o motivo é somente este: foi o autor que me fez olhar para a poesia de uma forma bem distinta daquela que eu descobri nos livros e que assumi como minha.

Não possuo formação superior em Literatura e tudo o que pretensamente sei, ou penso que sei, embora o pretensamente já diga algo, descobri-o através de leituras e do que em mim, pelo gosto de polemicar sobre tudo e mais alguma coisa, foi adquirindo a forma de uma aproximação de verdade, de resposta às minhas próprias questões.

Pois bem, após muitos anos de pesquisa e íntima inquirição, eis-me com um problema: por que se gosta de algo que não coincide com a definição de arte, tal como, aliás, a defini, em traços gerais, naturalmente, na referência a Domingos da Mota?

Demorei algum tempo a descobri-lo. António MR Martins proporcionou-me essa nova forma de olhar para o fazer poético, porque este autor, e nem necessito de mencionar os diversos palcos temáticos por onde se movimenta, os quais são múltiplos, variegados e ricos, com imagens que nos surpreendem e despertam em nós a tal emotividade, mas porque me soube dizer, através da sua leitura, de uma outra forma de cantar.

Esse cantar, que é pródigo em António MR Martins, configura-se no cantar da minhas recordações de infância, dos tempos em que desejava que rapidamente chegassem as férias de verão e fosse para a aldeia de Serpins, na Lousã, para escutar o rumor das águas, rumor esse que me assaltou, de novo, já na dita idade adulta, numa outra aldeia, Alvarenga, no concelho de Arouca, onde o Rego do Boi, que levava as águas aos campos, e onde nasceram as anotações que levaram à construção do “O guardador das águas”, que recebeu o Prémio de Poesia Vítor Matos e Sá, do Conselho Científico da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, no ano de 2004.

Fica, por esse motivo, aqui, não só o agradecimento por ter feito mudar a minha concepção de poesia, mas sobretudo por me ter permitido entrar, sem preconceitos, na leituras de muitos outros autores, os tais que não seguem o cânone ou que subvertem o cânone, mas eu sei do porquê de essa subversão.

Quem consegue efectuar uma alteração destas num casmurro como eu merece, da minha parte, não a consideração pessoal, que essa nada tem que ver com estes comentários, mas a certeza, aquela certeza que o Rui Knopfli escreveu: "só os poetas têm lembranças do futuro".

Xavier Zarco


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