pássaros de r.

Data 09/06/2010 12:02:26 | Tópico: Textos









memórias quase de chuva, lançar-me ao vento. esperar uma corrente forte que afogue. matar-me. era assim sempre que te via, a crescer-me dentro da pele como um tumor. tinha para ti os melhores planos do mundo, imagens de um futuro, quase próximo como um abraço. quando sabia de ti, contavam-me dos dias curtos, de chuva junto ao osso, de dor maior. tinhas um pequeno barco à cabeça, dentro o coração, fome de quem te afectasse, te entrasse no corpo, rasgasse o sangue nas veias. querias para ti um tumulto de carinho, quem te levasse a solidão do músculo. não te soube dar senão um epitáfio. hoje não sei do barco ao vento, de pedra feito. levaram-no as memórias encaixilhado nos sonhos. se te encontrarem os pássaros do frio diz-lhes do lugar onde te perdeste, que voltar seria amar-me para sempre. talvez depois te regressem, te tragam no bico o corpo para mais perto. não sei ainda por onde se foge disto que tenho por dentro. hoje.








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