As Fifis (rep)

Data 10/06/2010 15:17:59 | Tópico: Contos

As Fifis
by Betha. Costa

Gêmeas idênticas. Batizadas Filomena e Firmina. Desde a infância eram conhecidas no povoado com “as Fifis”. E tudo se dizia delas: belas, inteligentes, extrovertidas, estudiosas... Não havia nas redondezas (nem quadradezas) quem não soubesse das irmãs e as elogiasse!

Muitos anos - daqueles em que os cabelos ficam grisalhos, a coluna diminui pelo achatamento dos discos intervertebrais, os dentes viram pivôs e/ou dentaduras e a lei da gravidade é fatal às mulheres - se passaram para essas doces criaturas.

Enviuvaram sem que lhes fosse dada a dádiva da maternidade que tanto almejaram. Pais falecidos, elas voltaram a morar na casa das suas já distantes infâncias.

Conforme avançavam na idade lhes ocorriam mudanças que deixavam o povo da cidade boquiaberto. Em vez de paciência, calma, compaixão, compreensão e da solidariedade tão comuns a quem amadurece; elas se tornaram amargas.

Amargas que nem as rapaduras e os potes de mel que ganhavam dos vizinhos lhes davam alguma doçura. Tornaram-se tão ácidas e azedas que só de olhá-las as pessoas tinham fortes dores nos estômagos.

Alimentadas por extensa rede de incautos informantes sabiam tudo que acontecia na cidade. FBI e CIA eram aprendizes perto da gama de informações sobre a vida alheia que essa dupla detinha: problemas financeiros, de alcova, distorções de caracteres, quem nascia quem morria...

Nessa época costuraram pequenas almofadas com babados e postavam-nas na janela para descansar os cotovelos. E além de os descansarem, falavam pelos cotovelos!...

Não satisfeitas em “saber” resolveram “alterar” os fatos e vidas das pessoas. Lutas para comprovação de paternidades, divórcios, casamentos na delegacia, desastres pessoais, amorosos e financeiros pipocaram na cidadezinha. Todos sabiam que tudo as Fifis sabiam e pior: espalhavam rápido como incêndio em mata seca.

Toda a gente passou e evitá-las. Não lhes dirigiam palavra.Meses foram rasgados nas folhinhas sem que ninguém lhes desse olhares e ouvidos. Como árvores que precisam de nutrientes e sol, as famigeradas irmãs secaram na janela por falta do que saber e dizer da vida alheia. São até hoje atração para o turismo local que prosperou graças as Irmãs Múmias da Janela.




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