
MDCCXCVII
Data 12/06/2010 18:23:44 | Tópico: Poemas
| (Casa de infância)
Sou sempre da minha casa, a casa que ainda sabe o cheiro com que nasci. Sou ainda flor de berma, protegida pelas pedras seguras e venerandas, da rua onde passa o frio do Marão. Sou ainda inocência, guardando o branco caiado da casa da minha infância num altar: e ainda hoje ergo os olhos, quando subo a calçada, para as janelas rasgadas, para as ombreiras cansadas da porta rendida ao tempo, que me concede a entrada em tapete de granito e saudades de outros tempos em que o amor era lá dentro, e lá dentro... era o mundo! Fui duma casa tão grande, aos meus olhos de menina! Mas cresci e trago agora, pra dentro da minha casa, tanta coisa nos meus olhos, que me parece pequena, vista por dentro de mim, a casa da minha infância! Mas por fora... ainda agora, o tempo passa em respeito de solene procissão e se curva à dignidade da singela inscrição sobre a porta da entrada: MDCCXCVII.
"Minha casa, tão velhinha, É de pedras tão singelas! Lembro que inda pequenina, Já sonhava à guarda delas..."
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