/ Inserir Dor Aqui /

Data 13/06/2010 12:34:41 | Tópico: Textos

Tudo o que penso está escrito nas águas
Tudo o que sou, apanhado pelas redes.




Três letras para definir

D
O
R

A dor não é bem-vinda, nunca foi, mas vem, vem. Dói. Não muito nem pouco. Dói e pronto.
Não foi ontem que doeu. Está a acontecer, precisamente neste momento em que alguém escreve. Mexe e remexe nas carnes passadas, não por um favor divino, não pelos olhos cegos de um deus pendurado por finos fios eléctricos que nos impede, misericordiosamente de cairmos no chão cinzento, mas pelo enxertar da raiz.
Isso mesmo que acabo de dizer. Alguém planta a dor e não sou eu.
Não se pode esconder. Há que actuar. Não se pode fingir que a dor não está aqui. Ela vem, vem, mesmo sem ser bem-vinda.
Há uma forte presença de terra barrenta, uma espécie de carne agarrada aos ossos por todos os lados a respirar. O ar é tão pesado que dói. A pressão da gravidade é tão grande que mói. É como se abrissem a pele, metessem os dedos, esgaravatassem, torcendo as tripas e descobrissem segredos, galerias infindáveis de segredos, prontas a serem confessadas se nos deixassem pensar, se tudo o que o que se pensa não for grito no ar, se tudo o que o que se é não se pode realmente ser. Tamanha é a dor entre um aglomerado de fios eléctricos
Onde está? Está aqui.
E por muito que me desvie estendem-se uns ferros parecidos com garfos, torcidos e perros.

Acabei de fazer uma símile cruel…
O quê? Também a sabem?







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