Dez anos depois de ti. (O menino que nunca quis crescer)

Data 14/06/2010 21:56:12 | Tópico: Poemas -> Amor

NOTA DE AUTOR: Aos que dedicarem um tempinho a ler isto... Obrigado, e jamais deixem de ser meninos ou meninas e de sonhar.

Dez anos depois de ti. (O menino que nunca quis crescer)





Dez anos passaram… Ele cresceu. E ainda hoje é o mesmo menino. Diferente!
Ainda hoje ele a espera. Ainda hoje ele fica parado junto ao mesmo portão por onde ela entrava todos os dias. Esse momento mágico em que ela lhe devolvia o sorriso. O sorriso daquele pobre menino. Ainda hoje ele a procura no mesmo mundo. Nesse gigante pátio onde eles brincavam. Na velha cabana de madeira. Naquele frio, frio banco de pedra onde um dia ele lhe disse: "Gosto de ti.".
Nessa mesma eternidade de hoje. Esse mágico amor: "Gosto de ti."…
Ainda hoje, no antigo rádio ele ouve a mesma canção. Repetida nos anos vezes sem conta… Saudade é o nome dessa velha música que ele já conhece de cor. A letra foi ele mesmo que a escreveu. Ao longo desses intermináveis anos em que a esperou. Ainda hoje essa música não tem pontos finais. Ainda hoje ele a escreve, a lágrimas, nas paredes dessa velha cabana de madeira que já não está no pátio. Essa música eterna que ele não sabe de onde vem…
O tempo passou. O menino cresceu mas não quis crescer. Ainda hoje ele a espera junto a esse portão verde. Ainda hoje ele a espera junto a esperança de que ela lhe traga novamente o sorriso perdido. Ainda hoje ele espera perdido algures nesse dia em que ela não veio. Preso a essa loucura de procurar por ela. Ainda hoje! E já não o diria ninguém… ele procura por ela em todos os cantos desse enorme pátio, do mundo talvez. Nessas imperfeições perfeitas que o tempo se esqueceu de limar…
Chegou mesmo a pensar que ela era sonho. Que era uma esperança inventada. Talvez seja mesmo... Deixemos iludido o menino!
Ele procurou-a, dias e dias nessa fútil e louca procura. Ela não veio nesse dia em que partiu. Nem no seguinte. Nem mesmo em todos os outros que se seguiram. Ele ainda dobra as esquinas à espera de um milagre de uma religião em que ele nunca acreditou. Ainda agora ele percorre as ruas ofegante a correr, pensando talvez tê-la visto. Quem sabe talvez…
Ele afinal ainda espera essa dor suave no peito; essa que diga: "…Ela voltou!". E ela voltou mesmo numa tarde, num outro rosto que não dela. Nos rostos das moças da cidade. Cada traço era dela. mas o rosto não!
Nunca a esqueceu esse menino… Aqueles olhos, um mar perdido onde ele navega num barco sem velas à espera de um vento que a traga. A escuridão dos cabelos dela. A escuridão que ainda hoje ele trás por dentro. O tempo ainda vive preso nesse gesto que ela fazia com a sua mão de pele de neve.
Quem olhar para esse menino, verá nos olhos dele um pouco do azul dela também… Depois disso nada verá senão um corpo vazio e cheio de esperança. Esperança de um dia encontrar de novo essa menina que ele nunca esqueceu…
Ainda hoje ele a espera junto a esse portão verde. Essa esperança de um sorriso breve. Esse breve breve: "Gosto de ti…"
Ainda hoje ele sonha reencontra-la. Ele hoje talvez já não seja esse menino que sonha. Mas um sonhador menino… Que procura por ela. Ela; Julieta…Dulcineia…Pandora. E ele o herói que a procura em outras histórias que não a dele. Outros mundos perfeitos de momentos imperfeitos. Em noutras impossibilidades e esperanças. Ela que é Maria… seu primeiro amor…

(Quem sabe um dia não serás tu. Quem sabe um dia; algures um portão se abra e sejas tu procurando por mim… Quem sabe, tu existas mesmo. Quem sabe se um dia um sombra me tape o sol, eu me vire e descubra que és tu… Quem sabe um dia; já tenha eu partido à procura de ti noutros mundos, ou esteja mesmo morto. Morto dessa espera, morto por essa esperança que eu tive. Quem sabe morto por essa tua ausência… Quem sabe um dia, tragas na mão uma flor e a deixes junto a essa pedra onde estão escritas palavras de saudade que nunca ninguém deixou por mim… Quem sabe essa flor simbolize mais que um adeus, mas uma esperança. E partirás sorrindo para mim… e quem sabe eu esteja sorrindo também. Algures sentado de frente desse portão sem tempo; por onde tu virás um dia…)



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