
Bafo sacro
Data 18/06/2010 15:21:15 | Tópico: Poemas
| Guarda-me a faca cor de sangue, preparada no altar. Venho hoje, vestido de vestes claras, despido do clarão, que ofusca a sanidade nos meus olhos. Minhas palavras preparam-se, os incensos erguem-se nos céus, o ar perfuma-se com o odor dos meus lábios.
Saceia-me com o cheiro do sagrado, com o mergulhar do altíssimo na minha pele aveludada. Grita a minha alma na pedra fria do altar já pronto, chispam sons de uma fogueira que arde, que se expande, louca.
É noite, e os fantasmas vagueiam no meu quarto, afugento-os de mim, queria ter-te aqui. A escuridão não me sossega, falta-me o teu verso quente, um texto para ler em noites de insónia, uma página rasgada de um livro que foi só nosso, no qual ninguém tocou, onde ninguém ousou depositar o olhar, que devoramos em segredo proibido.
Dou-te um bafo sacro, um beijo na tua mão, suada de suspiros, uma caixa não aberta onde guardes os teus mistérios.
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