Cobra Sem Bote

Data 20/06/2010 16:20:24 | Tópico: Prosas Poéticas

Cobra Sem Bote
by Betha Mendonça

Preciso falar. Meus dedos pregados nas dobraduras dessa língua bífida de serpente amazônica travam as palavras. Quero libertar a imaginação. Presa dentro do cérebro causa ânsias de textos na garganta, e, expele letras e fonemas pelos ouvidos... Tantas palavras sentidas e não ditas!

Mordo com força a língua. Sinto a partir de cada papila gustativa o sabor do veneno da literatura espalhar-se por dentro de mim. Ele tem a voracidade do câncer que silencioso mantém-se escondido. Ao menor descuido pode dar-me o bote e comer vagarosamente as minhas entranhas.

Nessa seara de tão poucos vocábulos, a colheita é fraca e pobre de expressões, por que na época do semeio os sentimentos foram mal plantados e cultivados. Estava ocupada demais a regar chuvas e beber grandes temporais.

Depois resolvi engarrafar pensamentos para venda no atacado. Quando dei por mim não sobrara nada que desse para escrever um texto que valesse o tempo e o olhar atento de qualquer leitor.

Ai, que medo de ter esgotado as palavras e não poder mais por elas expressar-me!




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