Junho

Data 21/06/2010 17:07:34 | Tópico: Prosas Poéticas

Porque todos sempre se vão admiro-me a mim, nesse constante aborrecer-me.
Escrevo-me em breu que não se destila e de todas as labaredas que me devoram,
a poesia é um rio de fogo cuja nascente se duplica no verde palha dos meus olhos.
Sou de consumir o inverno inteiro num só ventre meu; em postas as mãos, debulhadas no papel. Nascem de mim jardins às avessas, poemas cobertos pelas sombras que meus lábios deixam na trajetória do impossível.
Quisera dizer-me na palavra de um amor, pequena como um poro de epiderme, grande como o junho que se estende em frio e em jejum. Quisera dar fim à posteridade que se avizinha, soberana, amarga, silenciosa; soterrar-lhe as certezas ambíguas no piscar de um amanhecer e decantar-me enfim no leito branco da última página.
Porque todos sempre se vão admiro-me a mim, nesse constante aborrecer-me.




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