à senhora.

Data 21/06/2010 22:20:24 | Tópico: Textos









devo dizer-lhe: não tenho paciência. a senhora fala baixo na esperança que ninguém a ouça, diz mal deste e daquele e depois aquele diz a este que a senhora disse e o outro acredita e - ó diabo - lá vem o diz-que-disse. a senhora faz de conta que não é nada com ela quando lhe pergunto alguma coisa. cheia de lata ainda julga perceber de ciência moderna, arte e até mesmo psicologia. lá estratégia tem a senhora. ai tem. quanto ao resto - o que diz escrever? - meia dúzia de poemas por dia, rebuscados do ano de não sei quantos, dois livros - ou três? - em prateleira. atrás de si uma dezena de fãs assíduos e pontuais, sempre com comentários prontos, alguns feitos de improviso mesmo antes da senhora escrever. detesta as estatísticas, amordaça as tabelas, os questionários, as perguntas. a senhora manda apagar os comentários quando são insultuosos, porque a senhora é líder de um banquinho de senhoras, dessas que dizem que sim a tudo e andam para aqui a laurear a pevide, e quando quer: pode e manda. um dia destes, pela manhã, a senhora saiu-se com um poema, uma hora depois ainda ninguém o havia comentado, e a senhora, como seria de esperar - o que faz? - apaga-o. tenha vergonha a senhora que diz que sabe, e diz que tem, e diz que faz e acontece. e no fim é tudo fita. mas lá planos tem a senhora, esquemas bem elaborados de adquirir leituras e comentários. faz bem, gabo-lhe a paciência e a disponibilidade. agora à opinião da senhora é que falta qualquer coisa - ora bem. o que será? - coerência, ou verdade - também servia. a senhora tenha cuidado porque "quem diz o que quer ouve o que não quer". mas devo dizer-lhe, com todo o respeito - que merece: não tenho paciência.

















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