QUASE UMA BALADA

Data 22/06/2010 10:31:44 | Tópico: Poemas

ouro pobre dos meus pais
meus pais que já não existem
e dormem embaixo da terra
ouro triste que cochila
na podridão da miséria
me rasguem os documentos todos
façam de mim homem sem assunto
me atirem à indigência
depois que bem se fartarem
de beber o pó dos meus dias

ouro pobre dos meus pais
riso das mulheres que tive
e que o meu dos meus lábios levaram
façam de mim a poeira qualquer
dos meus que mal sussurraram
e fartem-se pois do meu sexo
e das minhas horas inúteis
a beber minhas tardes de ócio

ouro triste dos meus pais
pai e mãe estão mortos
mas deixaram-me por vingança
a estúpida luz da poesia
que agora não quero enxergar
que agora não posso enxergar
que agora não quero engolir
que agora não quero beber

ouro pobre
ouro triste
ai de mim


Este texto vem de Luso-Poemas
https://www.luso-poemas.net

Pode visualizá-lo seguindo este link:
https://www.luso-poemas.net/modules/news/article.php?storyid=138335