Missa do Oitavo Dia

Data 25/06/2010 11:28:18 | Tópico: Crónicas

As palavras servem para imensas coisas. Servem para acariciar as mentes, ocultar desejos, simular propósitos, atacar e defender ou para apelar à memória.
Quem escreve deve ter essa noção e responsabilidade na forma como quer usar as palavras e também deve ter a consciência que irá ser lido por diversos estilos de leitores…

Apelar à memória… e porque é disso que hoje se trata. Quando todos estamos concentrados no jogo de futebol do campeonato do mundo entre as selecções de Brasil e Portugal, em que nada importa quem ganha ou quem perde, se a nossa memória esquecer o nosso passado. Melhor, importará no momento e pouco mais, porque depois outros momentos ocuparão cada espaço do leitor e de cada escritor.

Não preciso recuar até ao ano de 1500 para apelar à memória, prefiro recorrer aos tempos mais próximos, quase como um jogo, em que o que importa é quem de facto perdeu!
E nesse misterioso trajecto, apelidado de jogo, fico perante a tristeza de hoje ser um dia marcante porque faz, exactamente, uma semana que quem perdeu o jogo nos deixou – José de Sousa – mundialmente conhecido por José Saramago.

Há, de facto, jogos em que perder não tem a relevância que se quer dar, e outros jogos, como o da vida, que tem muito mais relevância do que aquela que se dá… Tão simples quanto isso, quer se queira ou não.

Hoje celebra-se a missa do oitavo dia da sua morte e quase já ninguém se lembra desse facto. Porque a vida tem outros atractivos, porque é intensa e flui com naturalidade ou porque a memória é um músculo que nunca ou pouco foi exercitado.
Mas quem perdeu foi a literatura portuguesa e mundial, o que na verdade significa outra realidade; quem perdeu fomos todos!

Hoje quis praticar o meu direito de desenvolver este músculo que possuiu que se chama memória, que ao fazê-lo, pratiquei e desenvolvi outros músculos como o da escrita e o do pensamento, num velho hábito que procuro manter.

Que ganhe o melhor, no futebol, se isso for assim tão importante, mas que nunca se esqueça a memória de um povo, a razão de um escritor e a consciência do dever.

E já agora, não se esqueçam de amanhã, que no auditório do campo grande acontecerá o lançamento do meu primeiro livro de poesia “Metamorfose do Corpo”, para em conjunto saborearmos o doce das palavras.

Até lá…
Eduardo Montepuez






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