deixem-me.

Data 30/06/2010 23:10:18 | Tópico: Textos








nenhuma das palavras que costumo usar é agora suficiente. tenho dentro de mim uma granada de silêncio. toda esta dor, de que vos tenho vindo a falar, hoje foi-me atirada à cara por uma engrenagem similar a um corpo sentado. tinha guardado estas palavras para quando morresse, dar-lhes sentido agora é como limpar os canos da espingarda. quase o suicídio. não tenho estado nada bem. talvez não estar fizesse mais sentido quando o corpo corresse à procura de alguém. vim aqui hoje dizer-vos que não estou, nem nenhum outro lugar caberá dentro deste não estar. tantas vezes morro aqui, ao chamar alguém, o eco da voz retorna ao grito e come-me a língua. tudo o que quis dizer-vos foi isto: nunca quis tanto uma coisa como quero não estar. se me ouvirem chamar não acudam, que as partidas que a dor prega no abandono são feridas servidas ao corpo que está só.
















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