
A Memória Divina (Gabriela Mistral)
Data 06/07/2010 23:04:13 | Tópico: Poemas -> Introspecção
| Se em minhas mãos abandonardes uma desnuda estrela, nem para defender minha alegria saberei escondê-la.
Eu venho de uma terra onde nada se perdia. Se me abrirdes a gruta maravilhosa assim como uma fruta de ouro e púrpura que nos banha os olhos de um grande assombro, não cerrarei a gruta nem à serpente, nem à luz do dia,
pois venho de uma terra onde nada se perdia. Se me ofereceres vasos de cinamo e sândalo, capazes de perfumar as raízes da terra e de deter o vento quando erra, a qualquer praia os confiaria,
pois venho de uma terra em que nada se perdia. Tive no peito a estrela viva e inteira ardi como ocaso, E tive a gruta ensolarada em que prolongava o dia. Porém não as guardei, convicta de que não se oprime quem ama. Dormi tranquila sobre a sua formosura, fui serena ao sorver sua doçura. Tudo perdi sem grito de agonia pois venho de uma terra onde a alma – eterna - não perdia.
Gabriela Mistral, poeta chilena.
|
|