pormenores

Data 11/07/2010 14:25:54 | Tópico: Textos

talvez o nevoeiro seja pouco mais do que fictício na sua relevância.mas está aqui enorme,que o vejo e sinto.real e próximo.
desde que haja uma risca branca visível na estrada agarro-me a ela como quem sobrevive .o medo passa por mim,mas segue pelas margens,à esquerda e à direita da solidão,enquanto me equilibro em puro instinto. a música e os olhos atentos de outros mosquitos seguem-me a uma distância segura.consigo ouvi-los. pequenos sons que fazem toda a diferença.coisas que se dão e recebem sem que nelas se pense demais ou de menos.há pormenores tão grandes,não é verdade?coisas pequenas,perto de nós.
viajo ainda assim num silêncio maior.o silêncio de quem mais distante ignora o meu perigo, sem culpa.porque há outras realidades em curso.e nem sempre lhes medimos o tamanho,ou a importância por tão longe se encontrarem,em quase total invisibilidade.
quanto à minha: é pequena e desimportante,grande e vital.sou um mosquito que voa e tanto está,como não está.num dia estou vivo,no outro já não.que importa ao mundo?outros mosquitos voam.e outros nevoeiros carregados de solidão e acompanhados de medos sempre existirão na estrada . todos eles desimportantes,importantes,certamente.todos eles quase aleatóriamente presentes e ausentes,conforme a perspectiva possível.grandes e pequenos conforme a dimensão de um olhar .o conhecimento, construído que seja, requer uma certa espécie de proximidade.
e tudo isto,se calhar,são, ao fim e ao cabo, apenas pequenos grandes pormenores.porque o que importa é afinal a distância e não o tamanho. e nem por isso estar por aqui é estar perto.nem por isso estar por aí,é estar longe.mas o ignorar é uma grande distância que nos impede de ver . por aqui te pico em ruído,também para que me saibas.comunico,embora de forma algo enigmática.quase apenas como quem diz:estou presente.de resto,luto sozinho.às vezes na pequena –grande companhia de uns poucos. tento,como eles ,não me estatelar no pára-brisas do carro.na curva apertada da estrada. todos sabemos que acontece,mas nem todos nos vemos nas mesmas curvas. e o que nos preocupa é apenas o que sentimos,através do espesso nevoeiro.



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