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 SOLILÓQUIOData 12/07/2010 10:42:52 | Tópico: Poemas
 
 |  | carrego comigo algumas homenagens póstumas que preparei com bastante antecedência
 nunca se sabe o que pode acontecer amanhã
 tenho temporais na gaveta da escrivaninha
 atrás dos livros guardo algumas despedidas
 olhares de adeus que nunca quis apagar da memória
 lágrimas corrosivas que muitas vezes cegaram meus olhos
 resistiram ao tempo - parece até que as derramei ontem
 não sei se é normal mas gosto de inventariar tristezas
 o gosto amargo de certos dias ainda posso sentir na boca
 da mesma forma que sinto beijos que deixei de dar ou receber
 devia pedir mas não peço perdão por me maltratar tanto
 quando o silêncio começa a incomodar
 dou corda no currupião que tenho há anos
 e ele canta e só eu posso ouvi-lo  - ninguém mais
 agora se for pra sentir medo que me venha de vez o pavor
 sou feito de exageros e o pavor assusta mais que o medo
 por isso vivo em sobressaltos
 por isso acordo com a sirene da ambulância nos ouvidos
 ao lado da cama a enfermeira imaginária toma o meu pulso
 se lhe faço uma declaração de amor ela pede que eu me acalme
 na minha idade as emoções devem ser controladas
 um susto qualquer susto pode ser fatal
 por isso - eu imploro - não me beije agora
 outro dia - talvez
 
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 júlio, 12-07-10
 
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