
SUBTERRÂNEOS
Data 12/07/2010 15:40:44 | Tópico: Sonetos
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Por vezes imagino em consonante Delírios os ermos frágeis de minha alma A velha solidão gerando o trauma O sonho se mostrando mais distante, Porquanto a própria vida me adiante Vazio não traduz a mera calma Quem sabe ao fim de tudo a morte acalma Mesmo que nada exista doravante. O quarto escuro traz a velha imagem E o bêbado desnuda esta miragem Vagando pelos antros mais sombrios, Brumosa noite envolta em tal neblina A lua entre estas nuvens determina A história de quem vive em desvarios.
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Augúrios tão nefastos; vejo quando A trama se desenha em tom atroz, Ausência de esperança dita a voz De um quadro tão medonho quanto infando. Arisco pensamento degradando E ainda vive em mim em vagos nós Passado pelo qual perdendo a foz O rio num estio se acabando. Alego ao menos ditas da ironia Fortuna nos meus dias não cabia Reveses costumeiros regem sonhos, Transito entre os medonhos pesadelos, E quando mais insisto em não mais vê-los Retornam em cenários tão tristonhos.
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Angustiadamente a vida passa E nega algum caminho, mesmo até O quanto poderia em sonho e fé E a vida corroendo, torpe traça Ao menos num momento feito em graça A sorte poderia, mas não é E o quadro se desbota e esta galé Atando aos devaneios, morte grassa. Eclodem mil demônios dentro em mim, Percebo já bem próximo meu fim Heréticos os pântanos que eu vejo Nos ermos tão medonhos desta vida, Apenas resta a mera despedida Num tétrico e bisonho torvo ensejo.
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São tantos costumeiros os estorvos Aonde dessedento a minha incúria, Minha alma lamacenta em tal penúria Vislumbra esta presença dos vis corvos, Refaço após rapinas outro sonho, Mas nada resta em mim além do vago Delírio; nele teimo e se inda trago Somente a viva fera em ar medonho. Aspectos tão complexos, mas reais De quem se expôs à vida e em punição Agora enfrenta a vaga hibernação E aguarda em placidez seus funerais. Ausência de esperança em abandono, Somente da mortalha enfim me adono.
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Aonde quis um dia mais suave Não tendo estas respostas que buscava, Do imenso lamaçal, agora em lava O passo a cada instante mais se trave, E vejo sem defesas, todo entrave Uma alma em vaga noite segue escrava Apêndice da vida, a sorte escava A cova e me rondando em rapina, a ave Além de meramente um vão fantoche Exposto a tal sarcasmo onde deboche A vida do meu ser; inútil fardo. Apenas me restando alguns momentos E nestes se refletem desalentos Do velho roseiral, espinho e cardo.
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Não tenho mais respostas nem as busco, O passo que se tenta, na verdade Não traz sequer a sombra em saciedade E a cada ausência então; aquém me ofusco. A vida perpetua em lusco fusco A noite tão nublada aonde invade A mera fantasia que inda agrade Ao tolo pensamento rude e brusco. As velhas rapineiras me rondando, O quadro se afigura mais nefando, E o inverno dita a sorte de quem fora Sedento pela vida e hoje se esvai, O passo rumo ao nada sempre trai Uma alma tola e fútil; sonhadora.
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Pensara em algo mais que uma saída Um cais, ancoradouro ou coisa assim, Viagem se aproxima do seu fim Levando o quanto resta desta vida, A morte a todo instante presumida, Cenário tão nefasto, mas enfim O tempo se desnudo e traz em mim Apenas o retrato em despedida. Assíduo sonhador, um ser tão mero, O nada se resume ao quanto espero E vejo se esvaindo em luz sombria As tramas se tecendo num vazio, Porquanto a própria dita eu desafio, Não resta nem sequer talvez um dia.
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Por vezes me imagino mais audaz, Mas quando a realidade vem à tona O passo em força e fúria me abandona E a morte sem defesas já se faz, Ardência, insensatez; nada compraz A vida se perdendo em vão ressona Uma alma traiçoeira ora se adona Somente deste espelho tão mordaz, A face carcomida pela vida, O olhar ausente mostra a dimensão Neste enrugado rosto, a podridão Demonstra a minha história carcomida Nos ermos da nublada persistência Mostrando a invalidez desta existência.
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A fúnebre canção se ouvindo quando O rito se aproxima do seu fim, Quem sabe ao adubar outro jardim No estrume onde me sinto transformando O mundo se mostrara em contrabando Negando a consciência, morto enfim, O prazo terminando e sigo assim Aos ermos deste nada me inundando. Ao menos sei que um dia poderia Viver além da mera fantasia, Mas tudo se esvaíra plenamente, A faca com seu gume mais feroz O sonho se mostrara um vago atroz, Porém a morte chega e jamais mente.
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Fazer da poesia algo bem mais Que simples verso e crer nesta verdade Ao menos, ao trazer tranqüilidade Mostrasse meus caminhos desiguais, As súcias que eu freqüento em vendavais Herético delírio me degrade Apenas no enfadonho a saciedade As dores tão sutis quanto ancestrais. Herdando apenas isto; um ilusório Caminho aonde mostre merencório Delírio de um poeta em turbulência, Assim ao me mostrar leda excrescência Desnudo-me e deveras me anuncio Um turvo fardo em vida; em vão, sombrio...
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Das sombras nada além deste retrato Que exponho sem pudor em verso e tento Vencer o quanto resta, alheamento E ter mesmo que seja em mundo ingrato Ao menos a certeza de algum fato Que sirva ou se aproxime de um alento Domando o meu enorme sofrimento Aliviando o estio em tal regato, Resgato velhas cenas do passado, Momentos onde o tempo azulejado Talvez mesmo trouxesse uma esperança, Mas quando vejo especular verdade Apenas este não retorna e invade E o sonho ao desespero enfim se lança.
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Das duras e terríveis fantasias Negando alguma chance de futuro, Herético caminho sempre escuro No quanto além do nada me darias A morte revelada; noites frias, Nublada consciência eu me seguro, Mas sei o quanto é vago e deste muro Jamais os pés além tu transporias. Esgarço a todo instante o já puído Retalho deste sórdido vivente E quando alguma luz ainda tente O quadro se demonstra destruído, Vagando pelas hordas, mero pária A vida se desnuda, procelária.
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Negar alguma luz a quem se tece Em turbilhão instável; ledo crime, A face que deveras já substime Transcende ao quanto eu quis, mera benesse. Precocemente o dia se escurece Nem mesmo o sonho ou lua em paz redime Por mais que a solução inda se estime, Ao vento esta esperança se esvaece. Evanescente vida se perdendo Transcorro como fosse algum remendo Frangalhos entre cortes mais profundos, E ter a consciência deste nada Permite a vida agora agrisalhada Imersa nos meus charcos, tão imundos.
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Quando ocasionalmente algum sorriso Expressa-se no olhar de quem não cabe E tendo esta certeza, logo acabe Enorme dia a dia em prejuízo, O caminhar em trevas impreciso Ao menos que a verdade em mim desabe E o verme alimentado agora sabe Ao menos no final eu fui preciso. Esgoto em vida; um pária e nada além, O bêbado fantasma quando vem Perambulando em busca da sarjeta A morte apascentando, quem me dera. Somente a solidão, imensa fera Sorriso? Não passando de um cometa.
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Aprendo com a dor e isto me basta, Não quero mais as preces nem as rezas Se ainda na verdade tu me prezas Permita a minha história turva e gasta, O sonho a cada instante já se afasta E quando tu me vês logo desprezas Confessas o teu pejo enquanto pesas O olhar sobre o cadáver de outra casta. Não quero mais a voz reconfortante Apenas o final ora garante Descanso a quem em vida se fez podre, O vinho avinagrando mostre que o odre Deveras nunca teve uma valia, Alento? Não! Jamais, pois caberia.
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Das rocas e penedos desta vida Naufrágios costumeiros de quem tenta Vencer com seu saveiro esta tormenta Não vendo no final qualquer saída. A morte anunciada em despedida Nem mesmo qualquer lume me apascenta A face tão faminta quão sangrenta A adaga aprofundando esta ferida. No olhar a lividez de um semimorto O caos trazendo em mim o torpe aborto Jamais eu tive mesmo uma esperança, A morte que ao chegar já me sacia Negando o sofrimento de outro dia, Ao túmulo em carinhos, pois me lança.
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Funérea face exposta da verdade, A pútrida razão tomando o senso, E quando em meus espectros paro e penso Nem mesmo o medo ou pânico inda invade Ali ao perceber tranqüilidade Depois de um turbilhão gigante, imenso, O mar em turvas águas; já convenço Melhor que o dia a dia se degrade. Arranco os olhos, roubo este horizonte Anoitecida trama onde se aponte O fim indubitável, mas suave. Demônios ou arcanjos? Tanto faz, Apenas encontrar enfim a paz Minha alma, se inda houver, libertária ave.
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Afasto-me da vida como quem Sacia seus demônios plenamente, E sei o quanto cabe e me contente Já que do próprio mundo sigo aquém A noite em turva face quando vem Traduz uma alma espúria e plenamente Exposta ao mais cruel carma demente Presumo no vazio o que contém Restolho de uma mera criatura À sombra, tão somente do viver, Inútil tal fantoche, posso ver Na face que a verdade transfigura Apodrecido em vida, nada mais Restando além dos torpes funerais.
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Preparo em nuvens, corpos e rapinas Cenário aonde eu possa enfim deitar Em névoas sem presença de um luar Enquanto outra paisagem determinas. O quadro tão nefasto a que destinas A vida de quem nunca pode achar Nem mesmo uma esperança ao navegar Andando sobre pedras, bombas, minas. Escória de uma espúria persistência O fim seria apenas a clemência Que tanto desejei e ainda trago Qual fosse a foz suave deste rio, Durante o seu trajeto, tão sombrio, Ao menos no final, um leve afago.
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Atrelo o meu caminho ao mais profundo Delírio aonde uma alma poderia Seguir além do passo em ironia Um pária simplesmente, um vagabundo E quando deste esgoto eu já me inundo, A face mais atroz, pois sorriria E pelo menos tendo a companhia Dos ratos e dos vermes, novo mundo. Nos subterrâneos da alma eu me retrato E vejo humano ser demônio ingrato Vacante de expressões de divindade, Mesquinha criatura onde o reflexo Deixaria Satã, mesmo perplexo, Na fria consciência que me invade.
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Ao abandono a vida se transcorre E nega qualquer passo enquanto eu pude Tentar em harmonia uma atitude E nada a cada ausência nos socorre, No medo de seguir; o sonho morre Ausente dos meus olhos, juventude O canto tão longínquo não ilude A morte aos poucos toma e o passo forre Na farta indecisão na qual imerso Percebo quanto inútil cada verso Em universos frágeis, medo apenas, E quando dessedento em fonte esparsa Nem mesmo a alegoria já disfarça Reflete dentro em mim doridas cenas.
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Sombras dominam noites enfadonhas E o verso sem respaldo diz somente Da rapineira sorte que envolvente Ausenta mesmo quando além proponhas Caminhos tão diversos; enfadonhas Verdades noutro espaço e claramente O risco de viver já se apresente Demente delirar em tais medonhas Espúrias madrugas; ébrio e vago Queria pelo menos um afago E nada se apresenta que sacie O rústico delírio de um ser tétrico, O quanto se pensara mais eclético A cada nova ausência se esvazie.
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Apresentando o fim dos meus anseios Em versos ou na face desdenhosa De quem a cada instante sabe e glosa A vida entremeada em devaneios Os dias prosseguindo mais alheios Resultam nesta estrada pedregosa A sorte muitas vezes tenebrosa Adentra os mais terríveis, turvos veios E o canto em dissabor deveras trama A essência de uma vida enfastiada, A pútrida visão da escassa estada Ausente dos meus olhos a esperança, Apresso a desvendar o meu final, E sei do tumular caminho igual Na voz que sem respaldo algum se cansa.
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Um marco que pudesse ter além Do mesmo vago olhar, mero e sombrio O tempo se transcorre em vago estio E sei o quanto apenas me contém A marca em cicatriz dita o desdém, E tento desvendar o desvario E quando insanamente desafio O mundo e na verdade nada vem Sequer o que pudesse traduzir Alguma luz diversa em meu porvir, Esforços se perdendo inutilmente O vandalismo reina sobre o fato Num ato mais venal se eu me maltrato Apenas o final já se apresente.
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Esquálida figura transitando Nos ermos de uma turva madrugada Mortalha pelo tempo já traçada E o olhar adentra em trevas e é nefando. Ao longe tumular caminho quando Esboço em verso ausente paliçada A morte noutra face desenhada O manto a cada passo se esboçando Vetusto ser em torno desta sombra E nela a realidade já me assombra E o marco constitui em negação, A pútrida verdade se anuncia Na face desdenhosa e tão sombria Na decomposta imagem da ilusão.
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Caquética verdade infaustamente Na decomposição traduzo o que ora sinto O sonho se inda existe, sinto extinto E o corpo se apodrece lentamente, Que aos vermes este inerme ser fomente Num tétrico delírio, mero instinto, A marca demoníaca; onde tinto O olhar em turbulência de um demente. Avanço entre os meus charcos movediços, Os dias se perdendo sem os viços Que tanto procurara em vão canteiro, Amante das espúrias criaturas Nos ossos a lembrança em tumular Caminho de quem tanto quis amar E agora ressonância onde torturas.
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Num outonal delírio o inverno trama Esta última mortalha que me resta, A face demoníaca e funesta Convida para o fim, nefando drama,
Nublosa e dolorosa a velha chama No quando de Satã em mim atesta À morte dedicando então a festa Na qual se percebendo o quanto clama
Um espasmódico demônio em gozo O ser entre os mais lúbricos, formoso Na majestade sinto tal Mefisto
E rendo-me ao terrível soberano E sei que quando o faço, enfim me dano, Porém aos seus apelos não resisto...
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E morto embora ainda em vão respire Alimentando em mim carnificina Imagem tão nefasta determina O sonho que em verdade já se expire.
No quanto este terror ora transpire A vaga sensação não extermina Altares erigidos, queda e mina Nascente aonde o rumo determine
Na frágil sensação de ser humano A cada nova prece ao soberano Esgoto esta esperança e me amortalho
Dos ermos de minha alma, vou entregue Por mais que ainda tente e até renegue Ao tétrico delírio sigo o atalho.
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Aspiro liberdade em tal masmorra Respiro esta sombria magnitude E quando morta em mim a juventude Somente o desvario me socorra,
Por mais que a cada dia, enfim eu morra O passo rumo ao nada não me ilude, Rendendo em orações bem mais que pude Caminho tão nefasto se percorra.
As marcas tatuadas, minha pele Entregue aos vão domínios de Satã A morta não seria inteira vã
Enquanto este domínio ora se sele, Sorvendo deste fel que me abençoa Em Hades o canto em paz ecoa.
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No reino de Plutão eu me sacio, E sigo sem temor este Satânico Domínio desdenhoso, nunca em pânico Tomado pela insânia em desvario,
Ao senso mais comum eu desafio Herético pendor num ar tetânico Louvores a Mefisto no vulcânico Delírio me completo e me recrio.
Assisto aos mais heréticos fascínios E adentro sem pudores aos domínios Em Lúcifer traduzo a santidade,
Resumo neste Inferno o meu caminho E sigo desdenhando o ser mesquinho Aonde o mundo aos poucos se degrade.
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Angústia recendendo à solidão Os tantos dissabores que enfrentara Abrindo no meu peito a imensa escara Negando o que pudesse em direção Ausente dos meus olhos; não virão As horas onde a sorte se escancara A queda a cada instante já prepara E sei desta dureza imensa, o chão. Jamais eu pude crer noutro caminho E sinto o teu olhar longe e mesquinho Daninhas destroçando o meu canteiro, Apenas uma morte me redime Do quanto quis e nunca foi sublime Marcando com seu passo traiçoeiro.
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Surgiste deste abismo em precipício E trazes o sabor deste abandono, Na vida a solidão aonde abono Errático delírio, mais que vício Errado desde o mero e vago início, Simplório este primata, tolo mono E quando da esperança ora me adono, Apenas olhar míope, um resquício De um tempo feito em luz que na verdade Somente perfilara a falsidade Gerando este vazio que acompanha O passo rumo ao nada aonde eu tento Talvez inda aplacar o sentimento Amenizando um pouco a dura sanha.
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Olhando de soslaio vejo o acaso E nele me entranhando sem defesa Ainda que tivesse uma surpresa A vida não respeita qualquer prazo, E quando em ilusões, eu tento e aprazo Os dias se envolvendo em incerteza Deixando tão vazia a minha mesa Gerando dentro em mim o mero ocaso. E resolutamente bebo o nada E nesta face exposta e desdenhada O que inda me restara? Nada além Desta inconstante senda; aonde errático Qual fora algum demente, um ser lunático Somente o non sense me contém.
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Beleza ao mesmo tempo divinal Tomada em senda amarga e demoníaca A face desdenhosa e até maníaca Desenha a cada dia o funeral, E teima noutro farto ritual Enquanto um dia a quis; paradisíaca Ou mesmo numa luz afrodisíaca Prepara o bote e trama o meu final, A face desenhada desta fera Sorrindo em ironia já me espera Tocaia aonde eu tento e não consigo, Na espreita o bote e o corte em vã sangria Assim no olhar em luzes se teria Dos sonhos tão somente ermo castigo.
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Compartilhando o vinho em sangue e luto Brindemos ao final desta esperança E o corpo decomposto a vida lança Além do que pensara e não reluto, O sonho pela vida se eu permuto Sentindo este clamor da fina lança A morte sem sentido, esta fiança Cobrada com terror em ato bruto, Mas vejo sorridente em tons de orgia Enquanto a mera vida se esvaia Exangue e sem defesas, mera presa, Orgástica loucura em sacrifício Apenas o rondar no precipício Num ato mais atroz, rara nobreza.
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O crime sem castigo cessa o medo, E a vida continua dia a dia, No quanto cada fato já se urdia Ao gozo sem limites me concedo, E sei deste constante e vago enredo Aonde possa haver a hipocrisia, Porém sempre reinando a mais valia, O corpo decomposto, agora ledo, Mortalhas não lhe cabem, somente isto No furioso embate enfim persisto E vejo em ar agônico que tanto Um dia se mostrara bem mais forte, Sem ter uma esperança que suporte, No olhar em ironia vejo o espanto.
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Perfumas nesta noite mais brumosa, E sei do quanto bebes do crepúsculo, Enrijecendo em fúria cada músculo A face mais atroz e desdenhosa, O olhar de quem deveras gosta e goza No sofrimento atroz, em tom maiúsculo Desfaz em podridão cada corpúsculo E assim reinando agora majestosa, Em vampiresca cena a criatura Dos antros de minha alma se assegura Nos trâmites sutis do assassinato, E bebe cada gota deste sangue, Depois ao retornar ao ledo mangue Num toque magistral, sorriso grato.
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Teus beijos traduzindo a sede e a fúria Preparam a mortalha mansamente, O corpo desejado se apresente Gerando tão somente a farta incúria, Uma alma em petição, rara penúria O olhar tempestuoso da demente Sorrindo com sarcasmo se contente Somente ao perceber medo e lamúria. Satânica figura se aproxima Ronrona qual pantera e neste clima A noite em névoas feitas, acompanha A truculência marca este carinho, E o beijo furioso e mais daninho Sorvendo o sangue qual fosse champanha.
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Aos cães enquanto a fome saciava Jogados os meus olhos, nada resta Senão a tempestade onde se atesta Lascívia enlanguescendo o corpo em lava, A morte a cada instante me entranhava Da vida não se vê sequer mais fresta, O olhar deste verdugo agora em festa, Enquanto em puro sangue se esbaldava, Esvanecendo em noite nevoenta Ainda uma ilusão já se alimenta, Porém ao gargalhares tudo negas Meu passo que talvez fosse mais firme Sem nada nem caminho onde confirme Em plena escuridão, seguindo às cegas.
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O olhar que transformando o fraco em forte Resulta desta face mais mordaz, E quando a noite adentra e o nada traz Sequer a fantasia nos conforte, Apenas adivinho a minha morte E deixo cada cena para trás, Uma esperança tola e vã. Tenaz. No estio de minha alma perde o aporte. E ris em demoníaca feição Na morte uma iguaria em refeição Sacia plenamente cada instinto Da fera que deveras fora outrora A mansa criatura e desde agora Satânica e venal, ora pressinto.
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A morte como Sísifo na espreita Atocaiada aguarda o fino bote, Ausência a cada passo mais denote Enquanto traiçoeira ali se deita À noite uma alma insana e insatisfeita Fazendo do seu sonho, um vão chicote Delira como fosse algum Quixote E ao fundo este coiote em plena espreita. Assim ao perceber esta verdade O quanto do meu mundo se degrade E sabe muito bem do quanto o espera, Olhando de soslaio, mansamente Aos poucos a sarcástica apresente A face embrutecida de uma fera.
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O tempo se perdendo em rapidez Não deixa que se veja atrás da porta E quando a morte chega e já se aporta O todo no vazio se desfez. Ausente dos meus olhos, lucidez Já quase nada sinto nem importa, O sonho – ser feliz- a vida aborta Tomado por total insensatez. O risco de sonhar já não se vendo Apenas resta em mim roto remendo Do tanto que esta vida inda pudesse, Ao menos ao sentir o olhar em prece Quem sabe adie um pouco este final, Mas cada vez mais perto o funeral.
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À sepultura adentro em noite vaga E o quanto desta vida se transforma E toma esta temível, dura forma Ainda que um sorriso âmago traga. O medo se esboçando, a dor afaga E o tempo a todo instante me deforma Meu fim a derradeira e sacra norma E o tempo com terror o sonho afaga. Ascendo aos meus herméticos caminhos E visto estes olhares tão mesquinhos Sedento do que fora algum alento, E quando alguma luz ronda o horizonte Apenas mera sombra que se aponte Fantástica ilusão em vão invento.
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Ao menos esta terra é meu legado E neste chão a carne apodrecida Gerando com certeza nova vida Algum destino em paz anunciado, O quanto nada fora no passado Em forma mais diversa enaltecida A história renovada e presumida Num derradeiro enlace, sem enfado. Da turva persistência sobre o chão À frágil decadência sob o solo, O mundo subterrâneo; outrora vão, Em nova dimensão se agigantara, Assim ao perceber o fim sem dolo, Alimentando em paz esta seara.
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Um enlutado mundo; em tom sombrio O quanto resta agora do que outrora Talvez na insensatez e sem demora Em ser inusitado eu me recrio, O pária vagabundo, este vadio A quem a própria ausência já devora Ao fim apodrecido comemora A foz aproveitável deste rio, E um renovável mundo em tez diversa Na qual a realidade agora versa E gesta esta inconstante e vã figura. Após o nada ser, decerto resta A sorte que talvez fosse funesta, Porém em serventia se assegura.
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Amortalhado sonho em tons sutis E nele cada passo dita o rumo Aonde no final se em paz me esfumo Ao menos neste instante sou feliz, O quanto inda pudera e já desfiz, Estrume garantido enfim aprumo O passo neste vasto onde resumo Além do que pensara ou mesmo quis. Cenário degradante? Paz eterna, No subsolo transformo em tal lanterna Quem fora sombra apenas, nada além, E o corpo decomposto em tons inermes, Satisfazendo a fúria destes vermes Enfim uma valia, ao menos tem.
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Nas fúnebres paisagens onde sigo Depois dos vendavais tão costumeiros Os olhos procurando os derradeiros Caminhos neste lodo, meu abrigo. O pouco de esperança inda consigo E tento na aridez destes canteiros Momentos prazerosos em ribeiros, Porém nas turvas águas eu prossigo. A morte se prepara em bote certo E aos poucos este mundo já deserto Deixando para trás o mesmo nada Do qual eu me fizera e me destroça, Somente preparando a cova e a fossa Na terra por escórias adubada.
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Das trevas e do vasto esquecimento Não tenho mais respostas, nem as quero, O mundo se aproxima e sinto fero Enquanto busco ao menos um alento, O quanto fora em vida um excremento Somente o fim; agora, ainda espero Restando na verdade um ledo mero Caminho aonde um sonho aguardo e tento. Restolho de um passado enfastioso Agora num cenário tenebroso Arcando com a herança mais venal, Do nada ressurgido após o vago, Encontro o meu caminho e nele trago Mergulho neste tétrico abissal.
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Distante de sonares e radares, O corpo se esvaindo em face escusa A morte, meu caminho agora cruza E nela se percebem vãos altares Porquanto além do todo navegares História se confirma mais confusa A dor sem mais defesas já se acusa Meu ermo se perdera em lupanares, Nas hordas de onde vim, um mero pária A vida esta diversa e má corsária Levara em saques medo e desavença O prazo terminando e apenas creio Num derradeiro passo em devaneio, Adubo que refeito, recompensa.
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Sob os mais complexos ritos sigo E tento discernir a sorte quando O olhar para o vazio se levando E apenas o não ser trago comigo. O vento desairoso em desabrigo O teto da esperança desabando As alegrias mortas, frágil bando A cada passo vejo outro perigo. Amante solidão, único porto De um vago caminheiro semimorto Noctívago fantoche em tal penumbra Apenas o revés por companheiro Renova-se em daninha num canteiro Que após a morte o olhar turvo vislumbra.
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Os céus tempestuosos entre as brumas Adentram a minha alma e na verdade O quanto do que resta e ainda brade Deveras noutro passo vago, rumas
E vês a sombra amarga nas escumas E sendo tão comum a tempestade No corpo que decerto se degrade As auras muito aquém, quase nenhumas
O prazo se esgotando e deambula Por sobre o solo um verme, a morte em gula Não deixa mais destroços sob a terra.
Quem nesta vida fora subterrâneo Agora se perfila e do cutâneo Somente a podridão já se descerra.
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Olhar voluptuoso da pantera Aguarda e neste salto me domina, A morte transbordando em fonte e mina Da vida que deveras regenera
No cíclico caminho onde se espera O fim que novo início determina, A pútrida verdade me fascina Carcaça noutra face em primavera.
Demônios entre deuses, totens meros E os olhos tão mortiços quanto feros Espreitam com sarcasmo este momento
E o quanto poderia sofrimento Em festa e num banquete se percebe Ao adubar em glória a tosca sebe.
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Ardentes ilusões a vida traz E nelas eu me entranho meramente, E o medo a cada engodo se apresente Na face tão temível quão mordaz,
Um abjeto demônio, este incapaz No quanto do vazio já freqüente Olhando para além não se pressente Senão esta mortalha e assim se afaz.
Percebo quão perfeita esta existência Da vida pela vida e nada mais, Enquanto tu lamentas funerais
Benesse se mostrando em evidência, Num renovável pacto a eternidade Em tons diversos doma e nos invade.
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A liberdade expressa num momento Que tanto possa ser mais doloroso E neste caminhar um andrajoso Mortiço ser adentra o vário vento
E quando algum desfecho além invento Percebo o meu caráter vaporoso E tanto quanto posso; torporoso Singrar este oceano onde alimento
Submundo com a carne destroçada E trago redenção aonde o nada Expressa a realidade mais fiel,
Do inferno desta vida à mansidão Os dias em tais fatos mostrarão A história deste ledo carrossel.
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Abismo com meu passo esta verdade Na qual já se constata fielmente A morte aonde o novo se apresente E trace outro caminho onde degrade
Embora com certeza desagrade O verso em tom brumoso, veramente Traduz o mundo quando plenamente A liberdade rompe a viva grade.
Carcaça em alimento se presume Em alimento vejo outra carcaça, E assim a realidade se trespassa
Do quanto sou provento e mesmo estrume Também de outro cadáver me fizera Momento aonde a caça doma a fera.
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Discreta esta presença sobre a terra Deste insignificante ser que um dia Pensara muito além do quanto havia E aos poucos noutra face se descerra;
O barco em tempestade quando se erra A direção e logo em tez sombria À deriva bem sei naufragaria Transcende à própria vida que ele encerra.
Do quanto nada valho e sei bem disso Um ser tão andrajoso quão mortiço Apenas resumido em alimento.
Morte em transformação renova a vida Quando se vê chegada é na partida Que existe em ciclo eterno este fomento.
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Ninguém conhece mesmo algum segredo Da vida senão a renovação, À busca da sutil religião Em passo tão errático eu procedo
E sei o descaminho duro e ledo Traçando em paz ou guerra a dimensão Dos dias que em verdade mostrarão O quanto inalcançável tal enredo.
O carrossel eterno me permite Dizer que não existe algum limite, Mas sei do meu papel e não reclamo.
Por ser tão vulnerável e ser forte, A morte na verdade um claro aporte A poda faz nascer um novo ramo.
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Inúmeros desenhos num mosaico, O quadro se renova a cada instante E o quanto deste nada me adiante Num ato tão dorido quanto arcaico,
O mundo se pudesse ser mais laico Talvez já não mostrasse em tom constante O quanto na verdade se garante Embora possa ser mesmo prosaico.
Noções de vis castigos e de prêmios Discernem com certeza vários grêmios E neles se criando, deus, demônio.
A Terra sempre vã, maniqueísta À realidade plena não resista, Senão só se veria um pandemônio.
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Porquanto sou deveras mais sombrio No verso onde persigo uma resposta, Minha alma, se ela existe, segue exposta E o quanto não resisto, teimo e crio.
A própria realidade é um desafio E nela se traduz o que desgosta Além de meramente uma proposta Labiríntico mundo exige um fio.
A morte é necessária e até sublime, Pois nisto a própria vida se redime E traça outro caminho, convergente.
Jamais são paralelas as histórias Importa muito pouco se as memórias Resistem à mortalha que se sente.
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A liberdade nasce em podridão, O sangue que a alimenta diz do quando Resíduo desta morte nos tomando E o corpo destroçado é sempre vão.
Marchando sem limites se verão Cenários onde o tom duro e nefando Esboça alguma força libertando E aprisionando o sonho em turvo grão.
É simples caminhar em meio às feras? Enquanto a vida em morte tu temperas E singras com a angústia mais latente
Tu queres que algum deus isto alimente? A vida por si só diz penitência A morte se desenha em vil clemência?
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Teólogos, videntes, alquimistas Buscando uma resposta, a panacéia Que possa dominar em mesma idéia O quanto na verdade não avistas,
Oráculos diversos sem as pistas Dos vários vãos mistérios, assembléia Vencendo a realidade quando atéia E tentam presumir as nunca vistas.
Cenários onde a vida noutra forma Pudesse enquanto a humana se reforma E gera tão somente em vermes, vida.
A dúvida persiste e determina O variável tom da mesma sina Afirmação alguma é admitida.
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Profundidades tantas; adentrara Quem tenta perceber alguma luz E nada além da morte, sorte em pus Domina com certeza esta seara.
Uma esperança vaga se prepara Além do que em verdade mais propus É necessário então inferno e cruz, Para conter tal fera dura e amara
A sórdida figura, raça humana Enquanto na verdade a vida dana, Procura a redenção? Não a merece.
Inútil predador somente traz Na morte o seu papel e sendo audaz Ainda exige além qualquer benesse.
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Das névoas em crepúsculo pressinto A amarga realidade que se expõe E quando esta verdade decompõe O olhar além do mero e vago instinto,
A própria redenção de algum absinto No quanto em face nova se propõe A vida após a morte já repõe Ausente serventia onde eu me sinto…
Não quero e nem preciso de algum deus Meu prêmio já foi dado quando vim Se nada mais desejo após o fim,
Nem mesmo algum cenário em ledo adeus, Amar e perdoar? Mesmo instintivo Só não serei do nada um vão cativo.
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As glórias prometidas, as celestes Ou mesmo as tenebrosas de algum Hades Gerado em mais diversas tempestades Nas quais em mil temores te revestes.
No quanto muitas vezes te completes Ou néscia criatura tu degrades O passo e necessites de tais grades Em áridos caminhos tão agrestes.
A redenção se faz no dia a dia, E a morte dita então a serventia Na pútrida carcaça o meu destino.
As bênçãos e os castigos? São, pois teus. Criaste para tanto demo e deus Cenário às vezes turvo ou cristalino.
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Caminhos singulares; necessitas E teimas em tentar algum perdão Aos erros que cometes desde então, Gerando cenas sórdidas, aflitas
Noutra faceta tomas as pepitas E delas em sutil lapidação Procuras um destino em solo e grão E nestas fantasias acreditas.
Um pária perambula e destroçando O quanto se apresenta e desde quando Enfrenta as tempestades com seu ódio.
Depois de amortalhar a vida e a messe Enquanto aos seus instintos obedece Espera no final laurel e pódio.
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Sou nada e tenho disto esta certeza Já não me confortando uma promessa À qual este vazio se endereça E na verdade sirvo em lauta mesa
A quem na minha vida fora presa E neste carrossel, pois recomeça A vida e tanto faz se inda tropeça Ou mesmo me prepare uma surpresa.
Um deus humano em turvo sentimento, Não quero e não preciso nem fomento Numa esperança tosca e sendo assim
Resumo o meu caminho em nada além Do quanto em realidade me contém, Início pressupõe decerto um fim.
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Ao se fazer humano um ente que Gerara a natureza e neste fato O quanto neste ser eu me retrato Não tendo nem razões, já não se crê.
O mundo quando alheio só se vê No especular desenho em tal regato Narcísico demônio gera o prato E nele se alimenta e se revê.
A morte não existe. Noutra forma A vida perpetua e se reforma Em átomos, matéria tão somente.
Assim na ordem real e universal, Bendigo cada novo funeral, Pois dele a própria vida se alimente.
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Já não mais consistindo em um alento Presença que presume nova senda, Deveras ao vazio ora se estenda Morrendo sem além o pensamento.
E quando um lenitivo em vão fomento Ousando para tanto ter a venda Enquanto a realidade se desvenda E vejo o meu caminho em excremento.
Se eu precisasse até da divindade Ou de um castigo em vão e demoníaco. Criando algum jardim paradisíaco
Jamais conheceria a liberdade. Errático e talvez errôneo passo, Eu faço tão somente porque faço.
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Um feto apodrecido nalgum ventre Demonstra a realidade de quem tenta Seguir além da vida, a alma sedenta E nesta fantasia se concentre
Herético, portanto, sendo humano Não posso nem desejo mais perdão, Somente tendo enfim a previsão Consigo ou não deter um erro ou dano.
Mas sei da tão falível e fugaz Verdade pela qual eu sigo a vida Do imenso labirinto sem saída A morte tão somente se refaz,
A cova este berçário do futuro Gerando o que de eterno eu asseguro.
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Daninho ser que tenta algum consolo Após a degradante realidade, E gera sem pudor a divindade Qual fosse um mais estúpido vil tolo,
Enquanto à Terra dita a imolação Um holocausto duro e até diário Num ente tão venal quão temerário Apenas os demônios mostrarão
A face verdadeira deste que Além da própria vida, rara messe Ao mais sublime espaço se oferece Especular imagem, pois não vê.
Da imensa sordidez algum laurel? Merece tal escória mesmo um Céu?
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Em opulências tantas Cenários mais diversos Aonde em tons perversos Deveras te agigantas E assim tu logo espantas Os sensos onde imersos Traduzo em poucos versos As turvas, toscas mantas. Resumo em morte e vida Palavra presumida Seara onde inconteste O mundo não transcende Ao quanto já se atende E em sonhos se reveste.
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A pútrida visão Embora verdadeira Da face onde se esgueira O sórdido leão, Amplia a dimensão Da frágil corredeira E nisto esta ribeira Transforma imensidão. Do quanto em sua herança Apenas morto avança Em face mais diversa, Gerando uma promessa E nela se endereça Enquanto ao nada versa.
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Mesquinho caricato O tempo não responde Nem mesmo diz aonde Aflui mero regato, Se em sonhos eu resgato E gero nova fronde A morte não esconde O tétrico retrato, Porquanto é necessário Um ar mais temerário Ou mesmo algum alento. Se nada se fizesse Demônio já sem prece Destroça o próprio vento.
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Percurso variado E um fim igual eu vejo E sinto a cada ensejo As sendas do pecado Devera delicado Caminho onde o negrejo Traduz novo desejo De um templo abençoado. Herético fantoche No quanto já deboche Da vida e se amortalha A morte esta sublime Enquanto enfim redime Traduz vaga batalha.
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Semente de outra vida Um excremento apenas, Revivo e sei apenas O quanto é desprovida A história resumida Em duras, frágeis cenas E quando me serenas No fundo dita ermida. Carcaça e tão somente Um alimento, a caça, Enquanto a vida passa Da morte me alimente Depois ao mesmo fim Demonstra ao que ora vim.
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Ocaso e nada mais, Ourives do vazio O quanto sigo estio E aguardo os funerais, Meus passos animais E neles eu desfio A invalidez de um rio Em dias terminais, Semeio com a morte A vida onde se aporte Eternidade e sei O quanto num subsolo Remanso e eterno colo Em nova face e lei.
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Extraio do meu eu Os ermos mais profundos E neles os meus mundos No quanto se perdeu A história já teceu Os dias vagabundos E sórdidos e imundos No eterno e vago breu. Não passo disto e sinto O quanto agora extinto Já não comporto além Da pútrida faceta Aonde este cometa, A vida vai e vem.
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Esgoto entre os esgotos Não tendo mais sequer O quanto me aprouver Em dias semi-rotos Os braços amputados Os olhos em crateras, Os vermes, ledas feras Banquetes desolados, Nos ermos deste chão O trágico diz festa E o quanto e se me resta Transforma-se no grão. Reciclo-me e mergulho Aquém do pedregulho.
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Se resumidamente Não sou além do verme Que segue quase inerme Por mais que inda alimente Um sonho diferente Ao ver a podre derme Aonde a vida quer-me E nisto um vago crente, A tua divindade Não tem necessidade Senão deste holocausto, A terra movediça Precisa da carniça E nela um raro fausto.
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Portais diversos; crês E pensas no futuro Aonde claro/escuro Trariam seus porquês No fundo nada vês Nem mesmo algum seguro Caminho onde procuro Mantendo uma altivez; Nefasto? Nada disto Na morte eu me consisto E vivo deste fato, Depois em refeição Servido em podridão, O meu papel; resgato.
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A frágil criatura Adona-se de tudo E nisto não me iludo A vida me assegura Da farsa onde procura Um mar e me transmudo, Porém além vou mudo Na senda mais escura. Tropéis de fantasias E nela tu recrias Imagens discordantes, O prêmio e a punição Onde a putrefação É tudo o que garantes.
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Um sórdido vivente Em noites ermas vaga E tenta em plena chaga O vento que apascente. O quanto este demente No fundo sempre traga No olhar a fria adaga Da morte se alimente, Transcende à majestade E gera a divindade Qual fosse um ser superno, Depois da hipocrisia O que mais quereria, Ainda ser eterno?
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Não necessito mais Das tolas excrescências Sequer das penitências Ou ritos tão banais, Os dias são iguais E neles tais essências Resumem transparências E trama em seus cristais A morte nos sacia E traz além da fria Verdade outra promessa Mortalha para que? O mundo se revê No quanto recomeça.
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Cenário discrepante Altares que constróis E nisto já destróis Verdade noutro instante Em tantos vários sóis O universo adiante Por onde se garante Diversos caracóis. Nos subterrâneos da alma A morte nos acalma Sacia esta incerteza Enquanto na verdade Até saciedade A fera vira presa.
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Não quero o luto, apenas A comemoração Da morte desde então Enquanto me serenas, Não sabes das amenas Verdades que virão, Da etérea escuridão Repito arcaicas cenas, Se o nada me redime E nele este sublime Momento em que o vazio Transcende ao sofrimento, Apenas alimento A vida que recrio.
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Bactérias ou insetos Os meus parceiros são Do fim na escuridão Caminhos já completos, E neles os diletos Desejos mostrarão O quanto em precisão Os mundos são repletos. Esboço de outro tempo Em glória ou contratempo, Apenas um alento, Gerado em altivez Enquanto tu não vês Do quanto é alimento.
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Seguro passo tenho Enquanto me resumo Além do vago fumo No ser duro e ferrenho E nisto não desdenho Deveras eu assumo O pálido consumo Do mundo em vago empenho. Vagante criatura Que o fim, ledo amargura, Mas traz a realidade Herético primata A morte me resgata Do quanto eu já degrade.
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Um subalterno ser Perante este universo E nele se inda verso Buscando algum prazer, Ainda ter poder? Não posso e desconverso E quando me disperso Aprendo enfim viver. A morte, a sorte, o Fado, O fato desenhado Há tanto e sem promessas Senão estas falácias Quiçá toscas audácias Por onde tu tropeças.
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Escracho ser que um dia Quisera muito além Do que deveras tem Em tez dura e sombria, O quanto merecia Senão mero desdém? O vasto não convém A tanta hipocrisia. Satânico ou mordaz Edênico ou sagaz, No fundo pouco importa Deveras o subsolo E nele me consolo Em derradeira porta.
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Presumo alguma messe? Já não mais ouso tanto, O nada que garanto Ao nada ele obedece. A teia onde se tece O resto em desencanto E quando ali me espanto Não resta nem a prece. O manto que me cobres No fundo em atos nobres Ou mesmo em heresia, Não tendo mais valia Somente esconderia Os meus escombros, pobres.
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Meus ossos no final Retrato mais fiel Do corpo em sem papel Ato coloquial, Do imenso e sideral Caminho deste céu, Apático e cruel Sem bem, também sem mal. Esgarce que se vendo Num tétrico remendo Frangalhos de uma sorte Da morte outro cenário Por vezes temerário, Porém santo suporte.
92
Deste execrável mundo Disforme e sem sentido, O quanto resumido Em tom disperso e imundo No quanto me aprofundo E vejo resolvido Além do tolo olvido Um ente vagabundo, O pária entre os mais párias As mortes necessárias Ditam sobrevivência E nesta realidade O corpo que degrade Da vida plena essência.
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Jazigo; aonde eu vejo O renascer da vida E tendo a prometida História noutro ensejo, O manto benfazejo Presume a repartida Faceta apodrecida Sem medo ou mesmo pejo, Assim se transcendendo Ao quanto fui remendo E sigo após fortuna Na farsa que me tramas Acendo em fátuas chamas Verdade coaduna.
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Num éden desenhado Por quem deseja além Do todo que já tem E quer um novo fado, O manto destroçado E nele sem desdém Da morte sou refém E nisto sem enfado, Percorro unicamente No quanto se apresente Em dura realidade. Assaz freqüentemente A vida diz semente Enquanto se degrade.
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Opaco ser que vaga Por sobre o solo enquanto Tentando um novo manto E nisto já se afaga, O corpo sempre traga O nada e te garanto O preço sem espanto É fria e tosca chaga. Não quero outra verdade Senão a que me invade E digo sem pudor, A morte me aproxima Da vida que redima Em nova e turva cor.
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Certezas que carrego Do nada e do futuro No solo tão escuro Caminho turvo e cego, Alimentar meu ego? Não quero e te asseguro No quanto em alto muro Além não mais navego. Presumo o que não tenho Porquanto o meu empenho Em ser feliz agora. Se o tétrico carinho Do verme onde adivinho Cenário desarvora.
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A par do que inda resta Depois de tantos anos Em erros, desenganos, A morte fecha a fresta Somente então a festa Dos seres mais profanos E nisto em novos planos À vida já se empresta O corpo ora desfeito E neste eterno leito Descanso finalmente. O quanto eu fora vão Agora em torpe chão Na morte eu alimente.
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Edênico ou hedônico Já não me satisfaço Com cada ledo espaço Por onde em desarmônico Caminho em tom agônico Ditando cada traço E quando me desfaço Na morte viro um tônico. Aos vermes e bactérias Assim novas matérias Refeitas de um só ser, Sedentas criaturas Aonde me asseguras O manso apodrecer.
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Religiões e crenças, Apenas meramente O todo que apresente Em ledas recompensas, Não tendo como pensas Um ar impertinente Nem mesmo me apascente Em cenas duras, densas, Somente me esvazio E nisto em vão rocio O tempo me transforma, E decomposto sigo Eterno e calmo abrigo Novel e tosca forma.
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Quando nos subterrâneos caminhares Retrato em consistência variável Sabendo ser somente degradável E ter nestes vazios meus altares Porquanto noutro espaço te exaltares E ser somente assim um execrável Cadáver noutro tanto renovável Diverso que outrora desejares, Não tendo esta esperança quase lúdica Nem mesmo uma figura torva e lúbrica Ascendo ao meu espectro sem temor. Não quero e necessito de um alento, No adubo que serei eu me apascento E nisto o meu caminho. Redentor. [/size] MARCOS LOURES
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