AINDA SEM TÍTULO

Data 12/07/2010 20:41:00 | Tópico: Poemas

estou à beira do mondego
e o sol queima
as águas mansas do rio
tingindo-as de cristais
que como estrelas cintilam

e no entanto não estou
estou nas asas daquele pássaro
no olhar daquele pássaro
que ruma ao sul

além do tejo
além do guadiana

trago nas palavras
a música de orfeu
que busca a sua eurídice

trago o rigor do olhar de deméter
em demanda
do primeiro rebento de perséfone

trago cantes no corte de uma espiga
e a voz dos sinos
da igreja da madalena

trago os passos gravados pela porta
de são josé
e as ordens de dom dinis

e trago o gesto de afonso quarto
em cada pedra
da torre de menagem

e vejo o que vejo sombra
meu alentejo decepado
portugal por soletrar

e olivença aqui tão perto


Xavier Zarco



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