AUTO RETRATO
Data 12/07/2010 23:41:50 | Tópico: Poemas
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Por vezes acredito Na face mais gentil Do amor que não se viu E morre no infinito, E quando alçando o grito Jamais ninguém me ouviu, O meu olhar sutil Expressa e necessito Apenas de um afeto, Mas nada, mero inseto Trafego em noite escusa, A mansidão que trago No fundo é ledo afago Da vida mais confusa.
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Durante alguns momentos Eu mesmo imaginara Que a vida escancarara Diversos sentimentos E neles os alentos Que tanto procurara, A sorte imensa e rara Bebendo mansos ventos. Porém realidade Domina este cenário E o quanto é necessário Sonhar, já não mais quero. Eu penso no futuro E o nada eu asseguro Em riso tênue e fero.
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Apreços entre lumes Diversos, mas tão fracos, Os dias são opacos Ausentes teus perfumes E quando te acostumes Verás somente os cacos Resulto dos tabacos Resumo-me entre estrumes. E as âncoras perdidas, O náufrago destino Um mundo diamantino Já tanto em falso brilho Em vidros vãos quebrados Os pés dilacerados, Teimoso ainda trilho.
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Somar o que inda trago De tantos desvarios E nestes desafios O rumo dita o lago, No quanto um mero bago Após velhos pavios Nascentes, podres rios E ao longe um torpe estrago. Velhusco e sem proveito Ainda quando deito Imaginando estrelas, Não posso mais contê-las E sigo sem espaço Morrendo passo a passo.
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A par do que pudesse Ainda ter em mente Resumo em vã semente O quanto quis em prece, A morte já se tece E nela este demente Embora tão carente, Eu sei, nada merece. O canto em tom maior Que um dia quis de cor, Agora num noturno, Deste alegretto sonho Piano som componho No olhar turvo e soturno.
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Alheia aos meus anseios Gargalha em ironia, E sabe o que seria Em meros devaneios Embora em fartos veios Meu mundo fantasia Gerando esta utopia Os sonhos vão alheios. Disseste em precisão Do fim desta estação Aonde me apresento, Enquanto em flórea luz, Teu passo te conduz, A mim restando o vento.
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A ti eu agradeço A farsa desvendada A sorte desolada Encontra este adereço A vida tem preço E nele desenhada A face que enrugada No espelho eu reconheço. Um sórdido bufão Que pensa no verão, Mas sabe o duro outono, Da morte à minha frente O nada se apresente Restando o eterno sono.
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Por vezes quis sonhar... É fato que isto traz E mesmo satisfaz, Mas nada a se moldar, Somente o desenhar Do olhar torpe e mordaz De um ser quase incapaz Ainda de lutar. Bisonha garatuja Minha alma aos poucos fuja Da dura realidade... Mas quando me alertaste E pude ver no traste Atroz, dura verdade.
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Eu te agradeço tanto Por que és; decerto franca A vida se desanca E nela eu te garanto, Restando o torpe manto E nele a vida espanca Manhã que fora branca Agora em pleno espanto. Cenário verdadeiro De um tolo caminheiro Errático poeta, Que ao ver o espelho nega Com a alma tola e cega Faceta tão abjeta.
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Jogado em vago espaço, Este antro de minha alma, Conheço toda a palma E sei do meu cansaço, A ruga dita o traço E nada mais acalma, Também afasto o trauma Enquanto me desfaço, Amei e nunca omito. Meu tempo tão finito Não poderia ter Na primavera plena A sorte mais serena, E ausenta-se o prazer.
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Quando me desnudaste Deveras por inteiro Eu vi o verdadeiro Delírio deste traste, Agora no desgaste O quanto em derradeiro Caminho num ribeiro Aonde renegaste Qualquer sorte ou promessa, A vida se endereça Somente ao tumular Delírio que me entrave, Porém minha alma, uma ave Insólita a voar...
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Acertando os ponteiros O tempo pesa e tanto, No fim eu te garanto Os dias mensageiros Dos sonhos altaneiros E neles sem quebranto, Mas quando sei me espanto E bebo os espinheiros. Menina me perdoa, Uma alma segue à toa Em pleno devaneio, Mas quando a vida eu vejo Aquém do meu desejo, Meu mundo perde o veio.
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Acaso se notares Verás a desdentada Figura desdenhada Em pútridos lugares, No quanto em velhos bares Fizera a minha estrada Agora resta o nada E dele meus altares, Mortalha que se tece E o pranto que obedece Aos ermos desta escória. Ao te encontrar eu pude Sonhar com juventude, Descuidos da memória...
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Não mais eu poderia Saber de novos sonhos Se os meus são tão medonhos E negam novo dia. A porta não se abria E os tempos enfadonhos Quiçá mesmo tristonhos Aumentam tal sangria. Por vezes a ilusão Ou falsa adequação Em tempo/ledo espaço O corpo que se esgarce Tentando algum disfarce Cenário tosco eu traço.
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Em agradecimento A tal franqueza tua Minha alma te cultua E sabe o provimento Enquanto me fomento Da etérea e vaga lua A vida continua E nela sigo ao vento, Relentos de uma história Marcada em fatos tais E neles ancestrais Aspectos da memória Jazendo aonde um dia Amor fosse utopia.
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O tempo em crueldade Não deixa mais se crer No quanto possa ter Quem tendo certa idade Merece a realidade E nela se embeber Desdita até morrer No quanto se degrade. Carcaça tão somente, Porém por ser poeta, A vida não completa E tenta outra semente, Mas quando se desmente O fim dirige a seta.
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Não serei teu amigo, Decerto já não posso, Somente este destroço Um ser tão vago e antigo Que tenta e não consigo No fel aonde adoço A boca em desabrigo Resulta no que digo, O mundo jamais nosso. Reduze-me ao vazio E quando o desafio A queda é bem maior, O sonho eu não repito Se o tempo é tão finito O meu é bem menor.
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Retrato em decadência Da vida que em apogeu Pensara ser só meu Um mundo em sua essência Não quero esta clemência Se tudo já perdeu Meu mundo conheceu Agora a inexistência Tentara último sonho, E quando o decomponho, Não resta quase nada, A farsa se desfaz E a morte traz a paz Já tanto desejada.
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Percebo o quanto valho Velhusco e caricato, Olhando o meu retrato O olhar deveras falho, Ainda em vão batalho, Porém logo desato, E nada mais resgato Senão meu corte em talho. Retalhos do que um dia Pensara em harmonia No amor em redenção, Frangalhos tão somente E a face que apresente Total degradação.
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Esboços de uma vida Há tanto sem valia, A morte poderia Em face decidida Reger a mais perdida E tosca confraria, E sem tanta ironia, A carne apodrecida, O olhar mais cabisbaixo Enquanto assim me abaixo E vejo a pequenez De uma alma sem descanso, Ao fim enquanto avanço, A plenitude vês.
MARCOS LOURES FILHO
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