Retrato da memória [4]

Data 20/07/2010 11:28:13 | Tópico: Textos

Todas as quintas-feiras era a mesma coisa. Pela volta das sete da manhã, a camioneta da carreira chegava ao largo da capela onde meia dúzia de pessoas de cestos e alcofas vazios, a aguardavam ansiosos por chegar cedo à vila por causa da feira que ali os levava.
Pelas quatro e meia da tarde, já de regresso e no meio de um burburinho de vozes, de pius de pintainhos, de cestos e alcofas cheios, de centos e centos de couves do alfobre e ainda dos quarteirões de sardinhas que de frescas só levavam o nome; e dos alguidares e das peças de pano para os vestidos novos da festa, num embalo enlouquecido pelos solavancos da estrada de terra batida envoltos numa nuvem de poeira que lhes entrava pelas janelas e narinas, por via do calor insuportável que emanava do motor, das voltas e mais voltas na estrada a caminho de terras e terriolas, lá chegavam por fim, mais mortos do que vivos, mas felizes!



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