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 Prostituta cegaData 07/08/2007 12:02:05 | Tópico: Poemas -> Sociais
 
 |  | Vejo nesta jovem as marcas que o tempo tem deixado Rugas aparecendo num rosto que se deforma
 Marcando o passado triste que nela fora deliberado
 Mas segue calada seu caminho, pois se conforma...
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 Nasceu sem dom de enxergar, mas vê no sentido da mão
 Calcula seus passos no tempo, no eco da escuridão latente
 E jamais amaldiçoou a Deus, por faltar-lhe a visão
 Mas também jamais orou, e nunca se viu contente...
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 Do cigarro ao corpo, na vida vendeu tudo o que podia
 E pode sentir seus sonhos adernando num mar de lamento
 A ojeriza de seu corpo, ao sentir o desejo de quem repudia
 Mesmo não enxergando, fechava os olhos para qualquer acontecimento...
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 As crianças estão em guerra, crianças de rua, crianças sem pão
 E como ela, são quadros em preto e branco, ilusões perdidas
 Que vendem a vida, vendem um amor sem irmão
 Um corpo que se aluga, e outra vez a história será repetida...
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 Prostituta cega, talvez sua alma já tivesse vivido por aqui
 Há neste pretérito, a saudade, um aroma que exala no ar
 O corpo e o sangue de Jesus, sebe que estão presentes em si
 Mas tens na vida somente o corpo, alimenta-se do ato de pecar...
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 Desvia das dores, mas não sabe quem é o seu antagonista
 Pois neste rendez-vous, a sua história seque protagonizando
 Manipulada, vende-se aos poucos, nesta crueldade metodista
 E nesta vida cansada, segue agonizando...
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 Um dia fechou os olhos, como que esperando a morte
 A falta de luz, o brilho do sol que jamais o vira
 A fadiga no corpo, na vida a falta de sorte
 Uma lágrima lacônica, ninguém mais lhe admira...
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 E segue prostituindo-se, mas sem vender a alma
 Mesmo que o corpo clame pelo descanso esperado
 É um corpo que treme, que já perdeu a calma
 E fica a espera, de um outro corpo alugado...
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 Até chegar o dia, muitos outros por ela passaram
 Pássaros que não voam, pássaros presos ao chão
 Os seus gemidos de prazer, sei que jamais o ouviram
 Pois a boca também é cega, e as palavras não ecoarão...
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 Mas refará o caminho da volta, uma volta na escuridão
 Seguindo em procissão, ao toque de sua santa berlinda
 Onde espera o momento de sua luz, na sua ultima oração
 Mesmo que na morte, ver o colorido de uma luz que não finda...
 
 
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