MARCAS DE TI (REEDITADO)

Data 21/07/2010 21:43:19 | Tópico: Poemas

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MARCAS DE TI

Venho hoje falar-te, contar um pouco do que vai em mim,
Não penses que falo só por falar, que venho aqui oferecer-te a face num sinal de carinho, pra mais tarde te recusar este mesmo gesto...
Errei, todos erramos porque somos falíveis, deixamo-nos por vezes deslumbrar com os fascínios do mundo, com a beleza das hidras e das ninfas que se escondem à espreita da oportunidade...
Perdi, por amar demais aquele sorriso, por querer incontestavelmente aquele corpo, por acreditar nas fadas e princesas...
Sofri esperando em vão aquele olhar, trigueira dos meus sonhos tão reais, bebendo da esperança que não seca, do frio que não sufoca, do amor que não vislumbro...
Seria um marinheiro perdido, nos picos cristalinos da sedução, um pedaço de papel amarrotado na cegueira índole da tua mão.
Chorei sem distância a tua vida, que rolava a passos largos no meu rosto, na indiferença de seguir sem sentido, um caminho versus ilusão. Chorei o sangue ardente do teu ego, intocável nessa armadura virtual, nesse orgulho sem sustento, em gotas angustiantes pra nós dois.
Alimentei meu espírito de mentiras, intoleráveis e relaxantes, nadando nas brisas do teu cabelo, subindo e descendo a montanha da ilusão por cordas que hoje me matam e dilaceram...
Estendi a rude e pobre mão que a vida esculpiu, num gesto indescritivelmente doce, deixaste que os dedos se fechassem, por caprichos de poder, de ambição. Quando tinhas o poder da minha mão!
Soltei o meu sorriso amarrado a mágoas e traições, pedaços de rochas soltas na berma da estrada, que caprichosamente nos corroem os calcanhares e nos afundam em desalento.
Dei-te o brilho do meu olhar, pra te guiar no breu da noite, onde me fazes perder e encontrar mas não segues o rumo dos meus passos cansados, entorpecidos.
Deixei que me arrombasses o peito, com a tirania da tua frieza, com o veneno da tua beleza, com o que não foste alegria mas sim tristeza.
Não mais te vi, como nos tempos em que a cegueira não me impedia de sorrir, nas galopadas frescas dos breves encontros, onde os olhos te procuravam sobre as pedras da solidão, pedindo um momento...
Não mais te procurei como quando a minha vida eras tu, naquelas breves palavras que soltavas ao vento, esquecendo que meu peito pedia apenas um momento...
Não mais vivi o sussurrar do vento nas cearas, a embriaguez da agua na cascata, o palpitar do sol no meu olhar, o sorriso do vento em minhas mãos, nem a espada do teu olhar cravada nas recordações acéfalas e atrozes daquele sonho bom...
Venho hoje falar-te, as coisas que escondi por decisão, neste peito fulgente e atormentado.
Dizer-te que morrer é um começo, onde trancas as tristezas da vida, pelos sorrisos sem ela, onde enterras os pesadelos e morres nos sonhos...
Errei por te amar tanto, sem nada em troca, hoje erras tanto por não me teres amado nada, quando te oferecia uma vida...
Não podemos voltar ao passado pra desfazer os enganos e voltar ao presente sem uma lição. Mas podemos pegar na lição e mudar um futuro que só nós podemos mudar.
Vim falar-te como prometi.

Regensburg
29-02-08
Beija-flor



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